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30 de novembro de 2009

Eça de Queiroz...em 1867!

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"Sempre que no Parlamento se levanta a voz plangente dum ministro, pedindo que cresça a bolsa do fisco e se cubra de impostos a fazenda do pobre, para salvação económica da pátria, há agitações, receios, temores, inquietações, oposições terríveis, descontentamentos incuráveis.
O povo vê passar tudo, indiferente, e atende ao movimento da nossa política, da nossa economia, da nossa instrução, com a mesma sonolenta indiferença e estéril desleixo com que atenderia à história que lhe contassem das guerras exterminadoras duma antiga república perdida.
(...)
Temos um déficit de 5.000 contos. Esta é a negra, aterrível, a assustadora verdade.
Quem o promoveu? Quem o criou?
De que desperdícios incalculáveis se formou?
Como cresceu? Quem o alarga? É o governo?
Foram estes homens que combatem, foram aqueles que defendem, foram aqueles que estão mudos?
Não. Não foi ninguém.
Foram as necessidades, as incúrias consecutivas, os maus métodos consolidados, a péssima administração de todos, o desperdício de todos.
Depois, as necessidades da vida moderna, de terrível dispêndio para as nações.
Como na vida particular, cresceram as superfluidades, o vão luxo, o aparato consumidor, mais precisões, mais gastos, a vida internacional tornou-se tão cara que mais ou menos todas as nações estão esfomeadas e magras.
(...)
O déficit tornou-se um vício nacional, profundamente arraigado,indissoluvelmente preso ao solo, como uma lepra incurável."


Eça de Queiroz, 1867
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20 comentários:

vbm disse...

1867! Ninguém diria!

Ana Tapadas disse...

A actualidade das palavras de Eça...actualidade, infelizmente.
Muito boa escolha para os dias que correm.
Obrigada pelo teu comentário.
Bom feriado.
Beijinho

EDUARDO POISL disse...

"... E de novo acredito que nada do que é
importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas,
dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada,
apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Miguel Sousa Tavares

Abraços com todo meu carinho.
Uma linda semana com muito amor e carinho.

Meg disse...

Caro Vasco,

Pois é... hoje só não há "contos", o resto é tudo igual, para nossa estupefacção.

Um abraço

Meg disse...

Ana,

Será que não conseguimos alterar "isto"?
Mais de um século depois, este é o retrato dos nossos dias.
Por isso Eça se impõe.
Tem um bom feriado

Beijinho

Meg disse...

Eduardo,

Obrigada pelo poema.

Uma boa semana para ti

Um abraço

Maria Faia disse...

Olá Amiga,

Antes de mais, o meu obrigado pela tua visita ao Querubim.
Quanto ao Eça, bem... é imortal e intemporal.
Neste momento, lamento dizê-lo mas, este nosso mundo tem tantos vícios queo défice já quase passa ao largo. É que nós, com ou sem défice, vivemos ou vamos vivendo mas, infelizmente, muitos há que nem sem défice conseguem viver. E, morrem de fome, sede, maus tratos...

Um beijo amigo,
Maria Faia

Mª João C.Martins disse...

Meg

Não é por acaso que alguns escritores são e serão sempre, eternas refeências. É que, o que escreveram, é sempre intemporal!

Excelente escolha, é impressionante este texto!

Um beijinho

Zé Povinho disse...

As nódoas são as mesmas, os oportunistas continuam por aí, a irresponsabilidade campeia, e os ladrões ostentam os mesmos apelidos.
Portugal terá de se reiventar a menos que queiramos que tudo continue na mesma.
Abraço do Zé

Peter disse...

"O déficit tornou-se um vício nacional, profundamente arraigado,indissoluvelmente preso ao solo, como uma lepra incurável"

Se é assim desde 1867, querem agora resolvê-lo em 4 anos?

utopia das palavras disse...

POrque tudo continua a fazer sentido? Incrível!

Beijo

Meg disse...

Maria Faia,

Como é bom saber-te de volta!
Sempre o visionário Eça a chamar-nos a atenção para os nossos vícios, tão entranhados que não chegou um século para que as coisas mudassem.
Sobre a pobreza, ela deixa-nos sem palavras, em pleno séc.XXI.
Uma tristeza, uma vergonha.

Beijinho

Meg disse...

Maria João,

É verdade, este texto, sem a indicação do autor, poderia ter sido escrito nos últimos dias ou semanas.
Se Eça soubesse o que se passa hoje em dia, que diria?

Beijinho para ti

Meg disse...

Zé,

Não sei se Portugal ainda vai a tempo de se reinventar.

É preciso que desapareça toda esta cultura de corrupção, de arrivismo, de falta de honra, o que não é fácil.
Porque já diz o povo "quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita"...

Um abraço

Meg disse...

Peter,

Nem agora nem nunca, pelos vistos, e com esta gente que nos governa.

Um abraço

Meg disse...

Ausenda,

É triste verificar que em muito, não mudámos quase nada...
Este é só mais um caso.

Beijinho

São disse...

Fico espantada ! ou talvez nem tanto, pois ao ler as biografias das cabeças reinantes em Portugal dei conta de que os nossos problemas são velhos de séculos e séculos.

Tudo de bom.

APC disse...

não sei se são as palavras de Eça que são intemporais, ou se são os desgovernantes que pararam propositadamente no tempo. porque lhes dá jeito.
um beijo

Pata Negra disse...

Daqui a 100 anos ainda cá estaremos com as mesmas palavras, está tudo dito. Por vezes penso, para quê escrever se há tanto para ler! Aliás, pensei agora e vou registar! Está tudo escrito!
Um abraço lido e escrito

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

O Eça, o Eça, o Eça... O escritor favorito do meu pai que tinha lá em casa uma abastada colecção: Os Maias, O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro, etc. Quando se fala em Eça lembro-me logo do Crime do Padre Amaro. Li e reli e depois li outra vez. O Eça é parte da minha adolescencia!

Obrigado pela agradável lembrança, Meg.