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29 de março de 2009

As Quatro Estações, de Arcimboldo

 Giuseppe Arcimboldo nasceu em Milão, por volta de 1527. Iniciou a carreira aos 22 anos, como desenhista dos vitrais da catedral milanesa, ao lado do pai, Biaggio, seu primeiro mestre. Combinou o trabalho com o estudo das gravuras de Leonardo da Vinci, especialmente os de veia caricaturesca, cuja marca se evidenciaria na sua produção posterior. Em 1562 mudou-se para Praga, onde esteve sucessivamente ao serviço dos imperadores Fernando I, Maximiliano II e Rodolfo II. Pintor favorito da corte, realizou vários cenários para o teatro imperial. Hoje trago-vos aqui o seu trabalho mais conhecido... "As quatro estações" (Kunsthistorisches Museum Viena), série de cabeças formadas por uma infinidade de elementos vegetais como flores, folhas etc...
"As Quatro Estações"
Spring
Summer
Autumn 

Winter

O estudo e a avaliação da obra de Arcimboldo só foram tratados com rigor no início do século XX, talvez como reflexo do interesse que o surrealismo teve por ela.
Em diversos museus europeus encontram-se obras semelhantes.
Arcimboldo faleceu em Milão, em 11 de Julho de 1593.

Tão grande foi a influência de Arcimboldo, pintor do assombroso e do maravilhoso,
que inúmeros artistas beberam da sua fonte, entre eles o espanhol Salvador Dalí,
como o demonstra este

"Rosto Paranóico", Salvador Dali, 1935



[...Imagem de um grupo de negros sentados diante de uma cabana africana semi-esférica. A pintura de Dalí explora o carácter alucinatório proporcionado pela imagem que, vista após uma rotação de noventa graus, se reconstrói com surpreendente verosimilhança na forma de uma cabeça dilatada de aspecto cubista. ANDRADE, A. L.. Osman Lins: crítica e criação]



26 de março de 2009

A Vida Bate

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Cabeça - Amadeu de Souza-Cardoso
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A vida bate
Não se trata do poema e sim do homem e sua vida - a mentida, a ferida, a consentida vida já ganha e já perdida e ganha outra vez. Não se trata do poema e sim da fome de vida,o sôfrego pulsar entre constelações e embrulhos, entre engulhos. Alguns viajam, vão a Nova York, a Santiago do Chile. Outros ficam mesmo na Rua da Alfândega, detrás de balcões e de guichês. Todos te buscam, facho de vida, escuro e claro, que é mais que a água na grama que o banho no mar, que o beijo na boca, mais que a paixão na cama. Todos te buscam e só alguns te acham. Alguns te acham e te perdem. Outros te acham e não te reconhecem e há os que se perdem por te achar, ó desatino ó verdade, ó fome de vida! O amor é difícil mas pode luzir em qualquer ponto da cidade. E estamos na cidade sob as nuvens e entre as águas azuis. A cidade. Vista do alto ela é fabril e imaginária, se entrega inteira como se estivesse pronta. Vista do alto, com seus bairros e ruas e avenidas, a cidade é o refúgio do homem, pertence a todos e a ninguém. Mas vista de perto,revela o seu túrbido presente, sua carnadura de pânico: as pessoas que vão e vêm que entram e saem, que passam sem rir, sem falar, entre apitos e gases. Ah, o escuro sangue urbano movido a juros. São pessoas que passam sem falar e estão cheias de vozes e ruínas . És Antônio?
És Francisco? És Mariana? Onde escondeste o verde clarão dos dias? Onde escondeste a vida que em teu olhar se apaga mal se acende? E passamos carregados de flores sufocadas. Mas, dentro, no coração, eu sei, a vida bate. Subterraneamente, a vida bate. Em Caracas, no Harlem, em Nova Delhi, sob as penas da lei, em teu pulso, a vida bate. E é essa clandestina esperança misturada ao sal do mar que me sustenta esta tarde debruçado à janela de meu quarto em Ipanema na América Latina. Ferreira Gullar
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Nascido em São Luis do Maranhão, em 1930, Ferreira Gullar, procurou apontar na sua obra a problemática da vida política e social do homem brasileiro.
. De uma forma precisa e profundamente poética traçou rumos e participou activamente das mudanças políticas e sociais brasileiras, o que o levou à prisão juntamente com Paulo Francis, Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1968 e posteriormente ao exílio em 1971 .
. Poeta, crítico, teatrólogo e intelectual, Ferreira Gullar entra para a história da literatura como um dos maiores expoentes e influenciadores de toda uma geração de artistas dos mais diversos segmentos das artes brasileiras.
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22 de março de 2009

Perguntas à Língua Portuguesa

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Apesar de não ser um texto tão recente assim, ...num momento em que tanto se fala do Acordo Ortográfico, ...não resisti a trazer-vos aqui este saboroso naco de prosa de Mia Couto. Sei que é um pouco longo, mas não darão por perdido o tempo da leitura. . .
. . . Venho brincar aqui no Português, a língua.
Não aquela que outros embandeiram. Mas a língua nossa, essa que dá gosto a gente namorar e que nos faz a nós, moçambicanos, ficarmos mais Moçambique. Que outros pretendam cavalgar o assunto para fins de cadeira e poleiro pouco me acarreta. A língua que eu quero é essa que perde função e se torna carícia. O que me apronta é o simples gosto da palavra, o mesmo que a asa sente aquando o voo. Meu desejo é desalisar a linguagem, colocando nela as quantas dimensões da Vida. E quantas são? Se a Vida tem é idimensões? Assim, embarco nesse gozo de ver como escrita e o mundo mutuamente se desobedecem. Meu anjo-da-guarda, felizmente, nunca me guardou. Uns nos acalentam: que nós estamos a sustentar maiores territórios da lusofonia. Nós estamos simplesmente ocupados a sermos. Outros nos acusam: nós estamos a desgastar a língua. Nos falta domínio, carecemos de técnica. Ora qual é a nossa elegância? Nenhuma, excepto a de irmos ajeitando o pé a um novo chão. Ou estaremos convidando o chão ao molde do pé? Questões que dariam para muita conferência, papelosas comunicações. Mas nós, aqui na mais meridional esquina do Sul, estamos exercendo é a ciência de sobreviver. Nós estamos deitando molho sobre pouca farinha a ver se o milagre dos pães se repete na periferia do mundo, neste sulbúrbio. No enquanto, defendemos o direito de não saber, o gosto de saborear ignorâncias. Entretanto, vamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas. Esta obra de reinvenção não é operação exclusiva dos escritores e linguistas. Recriamos a língua na medida em que somos capazes de produzir um pensamento novo, um pensamento nosso. O idioma, afinal, o que é senão o ovo das galinhas de ouro? Estamos, sim, amando o indomesticável, aderindo ao invisível, procurando os outros tempos deste tempo. Precisamos, sim, de senso incomum. Pois, das leis da língua, alguém sabe as certezas delas? Ponho as minhas irreticências. Veja-se, num sumário exemplo, perguntas que se podem colocar à língua: • Se pode dizer de um careca que tenha couro cabeludo? • No caso de alguém dormir com homem de raça branca é então que se aplica a expressão: passar a noite em branco? • A diferença entre um ás no volante ou um asno volante é apenas de ordem fonética? • O mato desconhecido é que é o anonimato? • O pequeno viaduto é um abreviaduto? • Como é que o mecânico faz amor? Mecanicamente. • Quem vive numa encruzilhada é um encruzilhéu? • Se diz do brado de bicho que não dispõe de vértebras: o invertebrado? • Tristeza do boi vem de ele não se lembrar que bicho foi na última reencarnação. Pois se ele, em anterior vida, beneficiou de chifre o que está ocorrendo não é uma reencornação? • O elefante que nunca viu mar, sempre vivendo no rio: devia ter marfim ou riofim? • Onde se esgotou a água se deve dizer: "aquabou"? • Não tendo sucedido em Maio mas em Março o que ele teve foi um desmaio ou um desmarço? • Quando a paisagem é de admirar constrói-se um admiradouro? • Mulher desdentada pode usar fio dental? • A cascavel a quem saiu a casca fica só uma vel? • As reservas de dinheiro são sempre finas. Será daí que vem o nome: "finanças"? • Um tufão pequeno: um tufinho? • O cavalo duplamente linchado é aquele que relincha? • Em águas doces alguém se pode salpicar? • Adulto pratica adultério. E um menor: será que pratica minoritério? • Um viciado no jogo de bilhar pode contrair bilharziose? • Um gordo, tipo barril, é um barrilgudo? • Borboleta que insiste em ser ninfa: é ela a tal ninfomaníaca? Brincadeiras, brincriações. E é coisa que não se termina. Lembro a camponesa da Zambézia. Eu falo português corta-mato, dizia. Sim, isso que ela fazia é, afinal, trabalho de todos nós. Colocámos essoutro português - o nosso português - na travessia dos matos, fizemos com que ele se descalçasse pelos atalhos da savana. Nesse caminho lhe fomos somando colorações. Devolvemos cores que dela haviam sido desbotadas - o racionalismo trabalha que nem lixívia. Urge ainda adicionar-lhe músicas e enfeites, somar-lhe o volume da superstição e a graça da dança. É urgente recuperar brilhos antigos. Devolver a estrela ao planeta dormente. Mia Couto . . . .

18 de março de 2009

Poética

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"Somos duplamente prisioneiros:
de nós mesmos e do tempo em que vivemos."
[Manuel Bandeira]
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Manuel Bandeira, por Portinari

POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente de
protocolo e manifestações de apreço no ar, diretor.

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
                   o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretario de amante
         exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneira
                            de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Manuel Bandeira

15 de março de 2009

2º Aniversário

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É verdade... já lá vão 2 anos!
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A Recalcitrante comemora hoje dois anos de vida.
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. A todos os que por aqui têm passado, lendo ou comentando...
a todos os que me têm acompanhado nesta aventura,
nos momentos bons e nos menos bons
- que também já os houve -
quero agradecer o carinho e a amizade que sempre me demonstraram.
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E espero,
daqui para a frente,
continuar a merecer a vossa companhia.
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Perdoem-me não ser de muitas palavras,
mas eu própria me surpreendo por ter atingido este tempo de vida...
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Bem haja a TODOS
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Meg
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11 de março de 2009

Rumo

. . Com África tão presente nestes dias, não posso deixar de recordar aqui um belo poema de Alda Lara... . .
Acácias Rumo É tempo, companheiro! Caminhemos ... Longe, a Terra chama por nós, e ninguém resiste à voz Da Terra ... Nela, O mesmo sol ardente nos queimou a mesma lua triste nos acariciou, e se tu és negro e eu sou branco, a mesma Terra nos gerou! Vamos, companheiro ... É tempo! Que o meu coração se abra à mágoa das tuas mágoas e ao prazer dos teus prazeres Irmão Que as minhas mãos brancas se estendam para estreitar com amor as tuas longas mãos negras ... E o meu suor se junte ao teu suor, quando rasgarmos os trilhos de um mundo melhor! Vamos! que outro oceano nos inflama.. . Ouves? É a Terra que nos chama ... É tempo, companheiro! Caminhemos ... . [Alda Lara]
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9 de março de 2009

Projecto

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MEUS AMIGOS!
ESTOU DE REGRESSO... FINALMENTE!!!!!
A todos, com a minha gratidão pela companhia,
deixo um abraço e... ME AGUARDEM!
Meg
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Deixo-vos um belo poema de Nuno Júdice
e uma tela de Rivera...
Diego Rivera .
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Projecto
.Desta vez vou escrever-te um poema
que vai ser um poema de amor,
mas que não é apenas um poema de amor.
O amor, com efeito, é algo que não cabe num poema;
pelo contrário,
o poema é que pode caber no amor,
sobretudo quando te abraço,
e sinto os teus cabelos na boca,
agora que a tua voz me corre pelos
ouvidos como, num dia de verão,
a água fresca corre pela garganta.
A isto, em retórica, chama-se uma comparação;
e pergunto o que é que o amor tem a ver com a retórica,
ou por que é que o teu corpo
se teme de transformar numa metáfora
- rosa, lírio, taça, qualquer objecto que tenha,
na sua essência, um elemento que me possa levar até ele,
como se fosse preciso, para te tocar,
substituir-te por uma outra imagem,
ver em ti o que não és,
nem tens de ser, ou ainda transformar-te
num lugar comum, que
é aquilo em que, quase sempre, acabam os poemas de amor.
Assim, este poema de amor é,
mais do que um poema de amor,
um exercício para escrever um poema de amor
- mas um poema de amor a sério,
sem comparações nem metáforas,
só contigo, com o teu corpo, com a tua voz,
com os teus cabelos, com aquilo que é real,
e não precisa de sair da realidade para se tornar objecto
de um poema de amor em que o amor,
finalmente, deixa de ser o objecto único do poema,
que se preocupa acima de tudo com a retórica,
as imagens, o equilíbrio das formas.
Mas, pergunto, não é o teu corpo uma flor?
Não é a tua boca uma rosa?
Não são lírios os teus seios?
Tudo, então, se transforma:
e o que tenho nas mãos é uma imagem,
a pura metáfora da vida,
a abstracta metamorfose das emoções.
O resto, meu amor, és tu -
e é por isso que o poema de amor que te escrevo não é,
finalmente, um poema de amor
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Nuno Júdice
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1 de março de 2009

Poema Sentido

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Ricardo Paula
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. Tempos difíceis como pedras circunstâncias adversas na vida e na alma marcadas em dor rios de páginas escritas a negro montanhas de esperança perdida flores murchas secas de amor um mar de vazio sentido de palavras não ditas horizonte de lágrimas vertidas por ti...
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alma sombria... quanta amargura velada tristeza e desânimo alma de vida acabada vazia de amor e alegria perdida nas sombras... sem a cor... sem a luz que procuro...
. em ti...
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. Meg
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