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29 de abril de 2010

A Coisa Pública e a Privada




Entre a coisa pública
e a privada
achou-se a República
assentada.


Uns queriam privar
da coisa pública
outros queriam provar
da privada,
conquanto, é claro,
que, na provação,
a privada, publicamente
parecesse perfumada.
Dessa luta intestina
entre a gula pública e a privada
a República
acabou desarranjada
e já ninguém sabia
quando era a empresa pública
privada pública
ou
pública privada.


Assim ia a rês pública: avacalhada
uma rês pública: charqueada
uma rês pública, publicamente
corneada, que por mais
que lhe batessem na cangalha
mais vivia escangalhada.


Qual o jeito?
Submetê-la a um jejum?
Ou dar purgante à esganada
que embora a prisão de ventre
tinha a pança inflacionada?


O que fazer?
Privatizar a privada
onde estão todos
publicamente assentados?
Ou publicar, de uma penada,
que a coisa pública
se deixar de ser privada
pode ser recuperada?


— Sim, é preciso sanear,
desinfetar a coisa pública,
limpar a verba malversada,
dar descarga na privada.


Enfim, acabar com a alquimia
de empresas públicas-privadas
que querem ver suas fezes
em ouro alheio transformadas.
.

Affonso Romano de Sant'Anna
.
.

25 de abril de 2010

Jorge de Sena - só dois poemas... neste 25 de Abril



1

Hei-de ser tudo o que eles querem:
a raiva é toda de eu não ser um espelho
em que mirem com gosto os próprios cornos,
as caudas com lacinhos, e os bigodes
de chibos capripédicos.
Não sou nem sequer imagem.
Mas voz eu sou
que como agulha ou lança ou faca ou espada
mesmo que não dissesse da miséria
de lodo e trampa em que se espojam vis
só porque existe é como uma denúncia.
Hei-de ser tudo, não o sendo. Um dia
– podres na terra ou nos caixões de chumbo
estes zelosos treponemas lusos (1) –
uma outra gente, e limpa, julgará
desta vergonha inominável que é
ter de existir num tempo de canalhas
de um umbigo preso à podridão de impérios
e à lei de mendigar favor dos grandes.

2

De cada vez que um governo necessita de segredos,
por segurança do Estado
ou para melhor êxito
nas negociações internacionais,
é o mesmo que negar,
como negaram sempre desde que o mundo é mundo,
a liberdade.

Sempre que um povo aceita que o seu governo,
ainda que eleito com quantas tricas já se sabe,
invoque a lei e a ordem para calar alguém,
como fizeram sempre desde que o mundo é mundo,
nega-se
a liberdade.

Porque, se há algum segredo na vida pública
que todos não podem saber
é porque alguém, sem saber,
é o preço do negócio feito.
E se há uma ordem e uma lei que não inclua
mesmo que seja o último dos asnos e dos pulhas
e o seu direito a ser como nasceu ou o fizeram,
a liberdade
é uma farsa,
a segurança
é uma farsa,
a ordem é uma farsa,
não há nada que não seja uma farsa,
a mesma farsa representada sempre
desde que o mundo é mundo,
por aqueles que se arrogam ser
empresários dos outros
e nem pagam decentemente
senão aos maus actores.

Jorge de Sena




22 de abril de 2010

Guia de Mercado

Edward Hopper, Solitude


Nos mercados da solidão, sobem
de preço os barris: mas podemos comprá-la
ao desbarato, ao sair de casa, sem conhecer
ninguém.
Nos centros comerciais, a melancolia
vende-se em sacos de plástico, que se acumulam
nos carrinhos das compras, e se arrumam
nos frigoríficos da alma.
Nas bolsas, sobem as cotações
do desespero; mas quem o quiser comprar,
encontra sempre um accionista compreensivo
para o oferecer a preço de saldo.
E quem quiser um amor de empréstimo,
só tem de esperar que os juros desçam, e
pô-lo a render no banco da esquina, onde
a vida é mais barata.


Nuno Júdice
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16 de abril de 2010

Esta República




É certo que a República vai torta;
Ninguém nega a duríssima verdade.
Da pátria o seio a corrupção invade
E a lei, de há muito tempo, é letra morta.

A quem sinta altivez, força e vontade
Ficou trancada do Poder a porta:
Mas felizmente a vida nos conforta
De esperança, uma dúbia claridade.

Porque (ninguém se iluda), "isto" que assim
A pobre Pátria fere, ultraja e explora,
Jamais o sonho foi de Benjamin.

Os motivos do mal não são mistério:
— É que a gentinha que governa agora
É o rebotalho que sobrou do Império.

Bastos Tigre
(1904)
~~~~~
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Ontem como hoje...lá como cá...

 

12 de abril de 2010

Isto de ser poeta...

Maria Azenha... "sonhando"

(posso dizer que depois de a ler
não posso abrir “ o quarteto
a solo” incomoda como andar
ao Sol num dia de verão
sem ter um banco de jardim
onde pousar as letras)


hoje em dia um poeta
vale menos do que um cão
isto de deixar fugir os versos
pela internet dentro
causa-me uma grande aflição
e se amanhã eles não estiverem lá
que posso eu fazer
é muito perigoso escrever livros
hoje em dia hoje
vêm os vírus e apagam tudo
afectam as paredes do pc
não fica mesmo nada
é como se fosse tudo cego
o écran esconde as letras todas
ai senhor doutor ai senhor
doutor tenho uma dor de versos
tenho muito medo
preciso que me valha
sofro com isto tudo
é como se o meu sangue
fugisse todo pelo écran dentro
acordar de manhã ir ao sítio certo
e não ver lá nada
isto de ser poeta é uma grande aflição
ai senhor doutor ai senhor
doutor se calhar o melhor é ficar quieta
não escrever nada ficar muito quieta
ficar tudo na cabeça
não usar shampoo
porque os versos podem apagar-se
fugir todos como no écran
ai senhor doutor o remédio é ficar quieta
escrever coisas sem importância
pode alguém espreitar e apagar tudo
que é pior do que roubar alguém
pois não fica nada
e amanhã senhor doutor os poetas
escreverão poemas
só com uma simples troca de olhares
e os versos voltarão a ver-se


ai senhor doutor ai senhor doutor
isto de ser poeta


é uma grande aflição

Maria Azenha
.
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10 de abril de 2010

De volta para os amigos


Com um grande abraço a TODOS,
me aguardem...

eu...

...seguirei na esteira da minha verdade

trabalhada em palavras sentidas e autênticas,

já que, pelos atalhos da injúria

e de palavras ditas sem nexo,

simples e verdadeiras,

tento resgatar as minhas ilusões.

[...]

meg










2 de abril de 2010

PÁSCOA FELIZ, a todos...




Não vos esqueço...
e agradeço o vosso apoio e compreensão para a minha ausência.
Voltarei... talvez em breve...
Entretanto, desejo que todos tenham
UMA BOA PÁSCOA
.
Todo o meu carinho num beijo
meg
.
.