Chagal, Le Poéte
ninguém suspeita que
um poeta não precisa de versos
com duas colheres e uma faca
abre o poema a meio
mete lá dentro o Alegre
o Napoleão e a santa Teresinha
um alfinete e uma pomba também fazem falta
para suplentes a florista edite
que vende rosas com música à Estrela
e na igreja de santa Isabel ao Rato
eu julgava que um poeta
precisava de versos nos livros
não é verdade. um poeta
sem prémios nas maminhas
passa o dia inteiro com uma faca.
se for bipolar ainda melhor
uns dias corta a preto
outros escreve para daltónicos
em são bento ?
sabias?
com a pá do lixo junta os papelotes
dos restos de poemas escabrosos
e num quadrado ao lado em Braille escreve
ao Saramago
o Sócrates é a favor de tudo
de perguntas de respostas
de ruas de democracias
de pessoas quase em cuecas
dos marcianos na Europa
porque isto é mesmo assim
ou se come Ou se é comido
o que me preocupa é o meu colar de pérolas
o grosseirão do Afonsinho
bateu na mãe com um milagre
e é por isso que hoje somos o que somos
e o que sobretudo não somos
ora, ora,
as crianças e os pomares
trazem já cabeças de navegadores
como na Alta costura!
maria azenha