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31 de dezembro de 2009

Que venha 2010!




QUE VENHA 2010 !


“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente…

…para você,
desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas
mas nada seria suficiente…
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada
minuto, rumo a sua felicidade!!!”


Carlos Drummond de Andrade
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27 de dezembro de 2009

Ano Novo... Feliz Ano Novo!!!!

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A todos os amigos, os meus melhores votos de
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 um 2010 com muita saúde, paz e alegria
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Ano Novo

Meia noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.


Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso silêncio
da Via-Láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa.


E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.


Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho
estelar
que sonha
(e luta)


Ferreira Gullar 
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26 de dezembro de 2009

COMOÇÃO NACIONAL... e SURREAL!

Estou indignada...farta...


Noticiado ao longo do dia, a cada hora, até à exaustão,  nos jornais, nas TVs...
é o retrato da Informação que temos...
ou antes, da falta de informação,
ou antes, da má qualidade da informação,
ou antes, da informação indigente,
ou antes, dum triste país em que o que se passa com um jogador de futebol ocupa tantas horas de emissão.
INACREDITÁVEL!!!
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E como a notícia ainda não deve ter chegado aos  blogs, aqui vos deixo o que de mais importante aconteceu no país da Alice... uma verdadeira COMOÇÃO NACIONAL...
Só espero que o PR, o PGR e mesmo o PM venham ainda hoje comentar os incidentes...
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"O homem detido hoje após desacatos junto a uma discoteca na Cruz de Pau, concelho do Seixal, em que esteve envolvido o futebolista Miguel, ficou com Termo de Identidade e Residência (TIR), informou fonte da PSP.

De acordo com a fonte da PSP, o incidente ocorreu pelas 05:00, quando um grupo de "quatro a cinco indivíduos", entre os quais o futebolista Miguel, tentaram entrar numa discoteca na Cruz de Pau, tendo sido impedidos de o fazer pelos seguranças.
Na altercação que se seguiu, ocorreram disparos, que atingiram uma viatura estacionada nas imediações, relatou a fonte, tendo o grupo abandonado o local, dirigindo-se para Lisboa.
Pelas 07:00, o mesmo grupo regressou à discoteca, onde a PSP havia já "montado um dispositivo para o interceptar", o que veio a acontecer, tendo sido todos conduzidos à esquadra de Cruz de Pau para identificação.
Segundo a fonte da PSP, o futebolista Miguel, que joga actualmente no Valência, e os restantes elementos do grupo, abandonaram a esquadra pelas 09:00, excepto o homem que foi detido.
O detido - que transportava uma arma sem possuir título legal para a sua posse - foi hoje presente a tribunal, tendo ficado com Termo de Identidade e Residência (TIR)."




QUAL CRISE, QUAL ORÇAMENTO, QUAL QUÊ!!!
ISTO É QUE É IMPORTANTE!!!!

E DESCULPEM-ME OS AMIGOS O DESABAFO, MAS JÁ NÃO HÁ PACIÊNCIA QUE AGUENTE!!!

20 de dezembro de 2009

UM ROSTO NO NATAL

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PARA TODOS OS AMIGOS
VÃO OS MEUS MAIS SINCEROS VOTOS DE UM
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imagem retirada  de aqui


Caiu sobre o país uma cortina de silêncio
a voz distingue o homem mas há homens que
não querem que os demais se elevem sobre os animais
e o que aos outros falta têm eles a mais
No dia de natal eu caminhava
e vi que em certo rosto havia a paz que não havia
era na multidão o rosto da justiça
um rosto que falava quanto a voz calava
um rosto que chegava até junto de mim da nicarágua
um rosto que me vinha de qualquer das indochinas
num mundo onde o homem é um lobo para o homem
e o brilho dos olhos o embacia a água
Caminhava no dia de natal
e entre muitos ombros eu pensava
em quanto homem morreu por um deus que nasceu
A minha oração fora a leitura do jornal
e por ele soubera que o deus que cria
consentia em seu dia o terramoto de manágua
e que sobre os escombros inda havia
as ornamentações da quadra do natal
Olhava aquele rosto e nesse rosto via
a gente do dinheiro que fugia em aviões fretados
e os pés gretados de homens humilhados
de pé sobre os seus pés se ainda tinham pés
ao longo de desertos descampados
Morrera nesse rosto toda uma cidade
talvez pra que às mulheres de ministros e banqueiros
se permita exercitar melhor a caridade
A aparente paz que nesse rosto havia
como que prometia a paz na indochina a paz na alma
Eu caminhava e como que dizia
àquele homem de guerra oculta pela calma:
se cais pela justiça alguém pela justiça
há--de erguer-se no sítio exacto onde caíste
e há-de levar mais longe o incontido lume
visível nesse teu olhar molhado e triste
Não temas nem sequer o não poder falar
porque fala por ti o teu olhar
Olhei mais uma vez aquele rosto era natal
é certo que o silêncio entristecia
mas não fazia mal pensei pois me bastara olhar
tal rosto para ver que alguém nascia

Ruy Belo
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18 de dezembro de 2009

Ora Eça!... mais uma vez...

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Mais uma vez... não resisti  a mais este excerto de ...
Uma Campanha Alegre...
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Para rir ou ... nem por isso?
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Mário Botas – “Eça de Queiroz em Havana”



Apenas um chinfrim...


«Ano Novo (preparando a carteira o lápis):
- Este país em que vou entrar é uma monarquia ou uma república?
Ano Velho (gravemente):
- As geografias dizem que é uma monarquia… Pelo que vi pareceu-me que nem era uma monarquia, nem uma república - e que era apenas um chinfrim.
(…)
- E de que vive o País? Tem rendimentos, tem orçamento?
- Tem de menos, todos os anos, para pagar as despesas da casa, uns cinco ou seis mil contos. É a isto que eles chamam as finanças. Cada ministério…
- Um momento! Sou um simples, um ingénuo, chego… O que é um ministério?
- É uma colecção de doze homens que se encarregam (seis trotando a cavalo atrás dos outros seis) de governar o País, isto é, de ter a mão na chave da despensa. Quando se pertence a um partido…
- Pertencer a um partido, caro colega, vem a ser?…
É meter-se a gente num ónibus que leva aos empregos e a que puxa o chefe do partido, sempre com o freio nos dentes!
- Mas a questão da fazenda, dizia…
- É uma espécie de nó que todos, um por um, são chamados a desatar e que cada um aperta mais. (…)»


Eça de Queiroz 
Uma Campanha Alegre, LIII,
Janeiro 1872
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17 de dezembro de 2009

Eça... nunca é demais!



"E assim se passa, defronte de um público enojado e indiferente, esta grande farsa que se chama a intriga constitucional. Os lustres estão acesos. Mas o espectador, o País nada tem de comum com o que se representa no palco; não se interessa pelos personagens e a todos acha impuros e nulos; não se interessa pelas cenas e a todas acha inúteis e imorais. Só às vezes, no meio do seu tédio, se lembra que para poder ver, teve que pagar no bilheteiro.


Pagou – já dissemos que é a única coisa que faz além de rezar. Paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam, soldados que o não defendem, padres que rezam contra ele. Paga àqueles que o espoliam, e àqueles que são seus parasitas. Pagam os que o assassinam, e paga os que o atraiçoam. Paga os seus reis e os seus carcereiros. Paga tudo, paga para tudo.

Em recompensa, dão-lhe uma farsa.

No entanto, cuidado! Aquele pano de fundo não está imóvel: agita-se como impelido por uma respiração invisível. Alguém decerto está do outro lado. Enquanto a farsa se desenrola na cena, alguém, por trás do fundo, espera, agita-se, prepara-se, arma-se talvez...
- Quem é esse alguém? As vossas consciências que vos respondam./.../"

Eça de Queiroz
1867

Aos AMIGOS...

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Aos Amigos,

Venho deixar hoje uma palavra de agradecimento pela preocupação e carinho demonstrados, não só nos comentários, como nos inúmeros émails que recebi nos últimos  dias.
Porque quem me acompanha há quase três anos, sabe que não é meu hábito trazer para aqui os momentos menos bons como este,  foram de uma enorme sensibilidade as palavras que recebi. 
Quero dizer-lhes que a troca de émails  foi muito gratificante e me têm ajudado a superar esta fase.
Este agradecimento é também extensível aos Amigos do Verso & Prosa ... onde muitos dos amigos foram encontar o meu endereço.
As palavras de conforto que me chegaram de quase todos vós, têm sido muito importantes.
Mesmo aos mais recentes amigos, devo uma palavra também, porque não me conhecendo assim tanto, me manifestaram a sua amizade, o que de certo modo me surpreendeu.
A net tem destas coisas.
Não sei se me repeti, mas estou a escrever o que sinto, e faço-o do coração.
O MEU CARINHO POR TODOS VÒS, É IMENSO!
Logo que me sinta com "estaleca" estarei convosco... no fim de semana ou antes ainda...
Entretanto não quis deixar de demonstrar aqui os "bastidores" destes dias, agradecer mais uma vez a vossa preocupação e as vossas palavras de estímulo.
BEM HAJAM!

meg
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13 de dezembro de 2009

Hoje estou triste...

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hoje estou triste

falta-me o ânimo e a alegria
uma súbita tristeza tomou conta de mim
não sei o que sinto, mas sinto-me assim...

apesar de ser natal... ou talvez por isso
hoje estou triste... e em silêncio
preciso de tempo, meus amigos...
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... de Maria Azenha

                                        

 Vejo que as tempestades vêm aí
pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos,
batem nas minhas janelas assustadas
e ouço as distâncias dizerem coisas
que não sei suportar sem um amigo,
que não posso amar sem uma irmã.

E a tempestade rodopia, e transforma tudo,
atravessa a floresta e o tempo
e tudo parece sem idade:
a paisagem, como um verso do saltério,
é pujança, ardor, eternidade.

Que pequeno é aquilo contra que lutamos,
como é imenso, o que contra nós luta;
se nos deixássemos, como fazem as coisas,
assaltar assim pela grande tempestade, —
chegaríamos longe e seríamos anónimos.
[...]

Rainer Maria Rilke,

in Das Buch der Bilder - O Livro das Imagens,
Tradução de Maria João Costa Pereira
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8 de dezembro de 2009

O HÁBITO, de Oriana Fallaci

PARA REFLECTIR E COMENTAR...um convite...

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O HÁBITO é a mais infame das doenças
porque nos faz aceitar qualquer infelicidade, qualquer dor, qualquer morte.

Por hábito, vivemos com pessoas odiosas,
aprendemos a andar acorrentados,
a suportar injustiças, a sofrer,
a resignarmo-nos
à dor, à solidão, a tudo.
O hábito é o mais impiedoso dos venenos
porque entra em nós lentamente,
silenciosamente,
cresce a pouco e pouco,
alimentando-se da nossa inconsciência e,
quando descobrimos que a temos sobre nós,
já todas as nossas fibras de adaptaram a ela,
já todas as nossas atitudes foram por ela condicionadas,
não existe já remédio que possa curar-nos.
Oriana Fallaci
[Um Homem, pág.120].

~~~~o~~~~
                                                     
Oriana Fallaci (Florença, 29 de junho de 1929 — Florença, 15 de setembro de 2006) foi uma escritora e jornalista italiana.
De uma esquerdista nos anos sessenta, tornou-se na principal crítica do Islão na actualidade da Itália [1].
Seu pai, Edoardo, foi um activo antifascista e já aos 10 anos, Oriana estava envolvida com a Resistência Italiana, participando do movimento clandestino "Giustizia e Libertà".
Durante a ocupação de Florença pelos nazistas, o pai foi capturado e torturado na "Villa Triste", onde funcionava uma secção da polícia politica alemã, também utilizada como cárcere e lugar de torturas até a Libertação de Florença, em Setembro de 1944.
Pela sua participação na Resistência, Oriana foi condecorada, aos 14 anos, pelo Exército Italiano.
Oriana iniciou sua carreira de jornalista aos 16 anos.
Inicialmente trabalhou como colaboradora de jornais locais e posteriormente como enviada especial da revista semanal L'Europeo, fundada em 1945.

Em 1967 trabalhou como correspondente de guerra para L'Europeo no Vietnam.
Retornará ao país por 12 vezes em 7 anos, para narrar a guerra, sem fazer concessões nem aos comunistas, nem tampouco aos americanos e aos sul-vietnamitas.
As experiências da guerra são reunidas no livro "Niente e così sia" publicado em 1969.
Ao longo de sua carreira, realizou importantes entrevistas com algumas das mais importantes personalidades do século XX, dentre as quais se destacam Henry Kissinger, o Ayatollah Khomeini, Lech Walesa, Willy Brandt, Zulfikar Ali Bhutto, Walter Cronkite, Muammar al-Gaddafi, Federico Fellini, Sammy Davis, Jr., Deng Xiaoping, Nguyen Cao Ky, Yasir Arafat, Indira Gandhi, Alexandros Panagoulis, Wernher von Braun, o Arcebispo Makarios, Golda Meir, Nguyen Van Thieu, Haile Selassie e Sean Connery.


"A Força da Razão" é uma rigorosíssima análise daquilo a que Fallaci chama Incêndio de Tróia, isto é, de uma Europa que, na sua opinião, já não é Europa - mas sim "Eurábia", colónia do Islão.
E fá-lo numa perspectiva histórica, filosófica, moral e política, enfrentando como sempre temas sobre os quais ninguém se atreve a falar e usando uma lógica irrefutável.
A Força da Razão é um hino ao raciocínio e à verdade, onde o leitor encontrará uma extraordinária maturidade de pensamento, coragem e a nobreza de ânimo
 "Livro clarificador e com sérias pretensões a originar mais uma fatwa à autora. Oriana Fallaci não deve estar preocupada, a sua convicção na força maior da opinião e na liberdade de expressão leva-a a continuar a pensar o mundo em que vivemos de uma forma despudorada e sem acenos diplomáticos à esquerda ou à direita, leia-se ao Ocidente bem comportado ou ao Oriente de vertente fundamentalista."Tiago Salazar, Magazine Artes, Janeiro de 2005
«Suscitado pelos ataques de 11 de Setembro de 2001 às Twin Towers, A Raiva e o Orgulho é, de facto, um violento libelo, cheio de raiva e de emoção. Em termos vivos, denuncia aquilo que considera ser uma vontade de conquista e de hegemonia dos radicais islâmicos e, mesmo, do mundo muçulmano em geral. E critica os ocidentais de cegueira perante essa ameaça e o confronto que já estará em curso: um confronto que, se ainda não é militar, é “cultural, intelectual e religioso”. Excessiva, sem dúvida por vezes injusta, Oriana Fallaci tem, no entanto, o mérito de ousar provocar um oportuno debate civilizacional.[Expresso]

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[Republicação]
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4 de dezembro de 2009

A Implosão da Mentira

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Fragmento 1.
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.

Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.

Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
 
 
Fragmento 2.
                                                             Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.

Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho.Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente.Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre.Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre.E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.

E assim cada qual
mente industrial? mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
-diária/mente.

Affonso Romano de Sant'Anna


30 de novembro de 2009

Eça de Queiroz...em 1867!

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"Sempre que no Parlamento se levanta a voz plangente dum ministro, pedindo que cresça a bolsa do fisco e se cubra de impostos a fazenda do pobre, para salvação económica da pátria, há agitações, receios, temores, inquietações, oposições terríveis, descontentamentos incuráveis.
O povo vê passar tudo, indiferente, e atende ao movimento da nossa política, da nossa economia, da nossa instrução, com a mesma sonolenta indiferença e estéril desleixo com que atenderia à história que lhe contassem das guerras exterminadoras duma antiga república perdida.
(...)
Temos um déficit de 5.000 contos. Esta é a negra, aterrível, a assustadora verdade.
Quem o promoveu? Quem o criou?
De que desperdícios incalculáveis se formou?
Como cresceu? Quem o alarga? É o governo?
Foram estes homens que combatem, foram aqueles que defendem, foram aqueles que estão mudos?
Não. Não foi ninguém.
Foram as necessidades, as incúrias consecutivas, os maus métodos consolidados, a péssima administração de todos, o desperdício de todos.
Depois, as necessidades da vida moderna, de terrível dispêndio para as nações.
Como na vida particular, cresceram as superfluidades, o vão luxo, o aparato consumidor, mais precisões, mais gastos, a vida internacional tornou-se tão cara que mais ou menos todas as nações estão esfomeadas e magras.
(...)
O déficit tornou-se um vício nacional, profundamente arraigado,indissoluvelmente preso ao solo, como uma lepra incurável."


Eça de Queiroz, 1867
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27 de novembro de 2009

Crucificação

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Como me tenho lembrado de Natália Correia!
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Bom fim de semana a todos
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Desenho do Vasco


Vertical sou contra Deus

Horizontal a favor

Nesta cruz me crucifico

Vertical com desespero

Horizontal com amor


Natália Correia
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25 de novembro de 2009

COEXISTÊNCIA...Bibi e o papai blogueiro...


Hoje não me apetecem coisas tristes...
por isso, partilho convosco um post delicioso do blog
 Poesias e Estórias da Bibi Nassif
uma das filhas do Luis Nassif, esse grande jornalista e blogueiro brasileiro que dispensa apresentações.
      Família de blogueiro sofre...ora leiam!

É legal e muito bom coexistir, sabe.
O papai coexiste, mas não muito bem.
Sabe por quê?
Porque ele coexiste muito, muito mesmo.
Mas ele coexiste com os eletronicos.
A gente tem que gritar pra chamar ele.
Uma vez eu gritei o nome dele e ele não respondeu.
Eu gritei mais alto ainda e ele não respondeu.
Eu gritei mais alto ainda e ele respondeu.
Até que enfim.
Eu quase fiquei muda (modo de dizer). 

BLOGUEIRO COEXISTINDO COM OS ELETRÓNICOS (adaptação)


Marlene aparentando calma:
- Sr. Nassif, tem um morto dentro da geladeira.
Nassif sem tirar os olhos do monitor:
- O quê?
Bibi assustada:
- Papai, tem um morto dentro da geladeira.
Nassif perdido no mundo virtual:
- Alguém deixou a porta da geladeira aberta e ele entrou.
Dodó amedrontada:
- Papai, você não está ouvindo? Tem um morto dentro da geladeira.
Nassif lendo os comentários do trivial:
- Outro?
Marlene paralisada:
- É o mesmo, senhor Nassif. O que é que eu faço?
Nassif detectando uma mosca assassina:
- Com o quê, Marlene?
Bibi trêmula:
- Com o morto que está dentro da geladeira, PAPAIIII…
Nassif eliminando comentários:
- Deixe lá. Com o calor que está fazendo, tirando de lá estraga.
Ruiva entrando nervosa:
- Nassif, temos que chamar a polícia.
Nassif testando o Fire Fox:
- Polícia? Pra quê polícia, Ruiva?
Ruiva descontrolada:
- LUIS NASSIF, há um morto dentro da geladeira!
Nassif preparando um novo post:
- Outro?
Marlene desconsolada:
-É o mesmo, senhor Nassif. O que o senhor quer que eu faça para o jantar?
Nassif entretido com o micro:
- Eu estou com um pouco de fome. Faça só um franguinho na manteiga.
Ruiva irritada:
- Nassif, onde é que a Marlene vai arranjar um frango a esta hora?
Nassif perdido na blogosfera:
- Há um morto dentro da geladeira.
Depois de 3 horas no computador, ele se depara com a família toda desmaiada e clama:
- Meu Deus, o que aconteceu aqui?
Laurinha:
- AU..AU…AU
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23 de novembro de 2009

A Democracia e a Corrupção






"Os homens são atormentados pelo pecado original dos seus instintos anti-sociais, que permanecem mais ou menos uniformes através dos tempos.
A tendência para a corrupção está implantada na natureza humana desde o princípio.
Alguns homens têm força suficiente para resistir a essa tendência, outros não a têm.
Tem havido corrupção sob todo o sistema de governo.
A corrupção sob o sistema democrático não é pior, nos casos individuais, do que a corrupção sob a autocracia. Há meramente mais, pela simples razão de que onde o governo é popular, mais gente tem oportunidade para agir corruptamente à custa do Estado do que nos países onde o governo é autocrático.
Nos estados autocraticamente organizados, o espólio do governo é compartilhado entre poucos.
Nos estados democráticos há muito mais pretendentes, que só podem ser satisfeitos com uma quantidade muito maior de espólio que seria necessário para satisfazer os poucos aristocratas.
A experiência demonstrou que o governo democrático é geralmente muito mais dispendioso do que o governo por poucos.


Aldous Huxley,
in 'Sobre a Democracia e Outros Estudos'
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Dá que pensar, meus amigos...
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19 de novembro de 2009

Democracia

Mais uma vez... e porque sim...

Ema Berta


Fui dar com a democracia embalsamada, como
o cadáver do Lenine, a cheirar a formol e aguarrás,
numa cave da Europa. Despejavam-lhe por cima
unguentos e colónias, queimavam-lhe incenso
e haxixe, rezavam-lhe as obras completas do
Rousseau, do saint-just, do Vítor Hugo, e
o corpo não se mexia. Gritavam-lhe a liberdade,
a igualdade, a fraternidade, e a pobre morta
cheirava a cemitério, como se esperasse
autópsias que não vinham, relatórios, adêenes
que lhe dessem família e descendência. Esperei
que todos saíssem de ao pé dela, espreitei-lhe
o fundo de um olho, e vi que mexia. Peguei-lhe
na mão, pedi-lhe que acordasse, e vi-a mexer
os lábios, dizendo qualquer coisa. Um testamento?
a última verdade do mundo? «Que queres?»,
perguntei-lhe. E ela, quase viva: «Um cigarro!»


Nuno Júdice



16 de novembro de 2009

O Eufemismo

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Amadeo Souza-Cardoso
O emprego do eufemismo caracteriza certas camadas sociais. A um homem da plebe que comete um furto, as gazetas não hesitam em exprobar ao ladrão, ao gatuno, o roubo que praticou ; mas se um homem de alta sociedade cometeu o mesmo, o mesmo crime, então os redatores adoçam servilmente a frase e escrevem: desvio de fundos, fraude, alcance, etc...
O povo observou perfeitamente esta injustiça e fez sobre ela um provérbio admirável: "Quem as gazetas não hesitam em exprobar ao ladrão, ao gatuno, o roubo que praticou ; mas se um homem rouba um pão, é ladrão; quem rouba um milhão, é barão". Um homem do povo não se embriaga; isso é próprio da gente fina; o plebeu embebeda-se, e, empregando termos da gíria popular, toma a carraspana, o pifão, o pileque, fica grosso, colhe a trompa (gíria galega), etc. Se num salão aristocrático se ouvissem estes nomes, as senhoras corariam de indignação; se numa viela de Alfama, em Lisboa, alguém pronunciasse o vocábulo embriagar, era apupado e escarnecido – caso verdadeiramente o entendessem. O conselheiro Acácio, a famosa caricatura de Eça de Queirós, conhecia bem o valor do eufemismo e empregava-o constantemente. Diz dele o escritor: "Nunca usava palavras triviais; não dizia vomitar, fazia um gesto indicativo e empregava restituir". Até os ladrões entre si usam o eufemismo, como aquele ratoneiro duma novela de Castelao, que suavizou o termo roubar em apanhar: "Certa noite de caminho propuxo Barrote que fossem apanhar uas galinhas". – Os dous de sempre, 1ª edição, p. 60. Pode portanto dizer-se que há na linguagem uma dissimulação, uma espécie de hipocrisia – o reflexo de todas as atenuações, transigências e desigualdades que a vida social, como está constituída, nos impõe. M.Rodrigues Lapa, in Estilística da Língua Portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1982. (excerto)
«««««o»»»»»
Manuel Rodrigues Lapa,
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filólogo, ensaísta e crítico literário português nasceu em 1897, oriundo de Anadia, e faleceu em 1989.
Licenciado pela Faculdade de Letras de Lisboa, doutorou-se com uma tese que ficou na história literária portuguesa como um dos estudos fundamentais sobre a lírica trovadoresca:
Das origens da poesia lírica em Portugal na Idade Média.
Tendo sido um opositor ao regime salazarista, em 1933 foi banido da faculdade onde leccionava e perseguido politicamente juntamente com outros intelectuais independentes.
Dirige, então, o jornal O Diabo e inicia a direcção da colecção Textos Literários, da Seara Nova, um importante contributo pedagógico, bem como inicia a colaboração nos Clássicos Sá da Costa.
Mais tarde foi obrigado a exilar-se em Paris, aquando o seu apoio a Norton de Matos, cidade onde continuará a sua actividade de investigador e professor até ao 25 de Abril, data que marca o seu regresso definitivo a Portugal.
. De salientar ainda na sua produção Lições de Literatura Portuguesa , Estilística da Língua Portuguesa e um livro de memórias, As Minhas Razões (Memórias de Um Idealista Que Quis Endireitar o Mundo) .
. . . .

14 de novembro de 2009

Sonetos Satíricos... para relaxar!

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Publico de novo... porque me apetece...
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MUITO!!!!!
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Brueghel, Tower of Babel .
Tanto na sátira política quanto na crónica de costumes ou na caricatura pessoal, o soneto é o espaço mais propício ao retoque de um retrato psicológico ou social, no qual se patenteie simultaneamente a perícia do fotógrafo. Quem assina o flagrante pode não ser poeta consagrado; pode até ser consagrado noutro departamento intelectual: mas o potencial crítico dum soneto certeiro terá validade permanente... . . A Dança dos Partidos . Os dous estragadíssimos partidos Ocupam a seu turno a governança; E nós imos vivendo da esperança De ver os nossos males combatidos. Os quinhões são de novo repartidos, Toda vez que se dá qualquer mudança, Se aquele outrora encheu, este enche a pança E os clamores do povo são latidos. Se as velhas leis têm sido violadas, Estando nossas crenças abaladas, Novas leis não darão melhores normas. Palavras eu não sei se adubam sopa, Mas a fala do trono é que não poupa Reformas e reformas e reformas
[Padre Correia de Almeida] .
Reforma do Ensino . Mal o Congresso arranja uma reforma, Da Instrução malsinada e miseranda, Outra já se prepara; e desta forma Ela de Herodes a Pilatos anda. Da mania reinante segue a norma (Pois que da glória os píncaros demanda) E de um grande projeto o esboço forma O fecundo doutor Passos Miranda. A nova lei ordena que os pequenos Trilhem com aplicação e com cuidado Seis anos de científicos terrenos. Um parágrafo seja acrescentado: O saber ler é obrigatório; a menos Que o rapaz se destine a deputado...
[Bastos Tigre] . . . Esta República . É certo que a República vai torta; Ninguém nega a duríssima verdade. Da pátria o seio a corrupção invade E a lei, de há muito tempo, é letra morta. A quem sinta altivez, força e vontade Ficou trancada do Poder a porta: Mas felizmente a vida nos conforta, De esperança, uma dúbia claridade. Porque (ninguém se iluda), "isto" que assim A pobre Pátria fere, ultraja e explora, Jamais o sonho foi de Benjamin. Os motivos do mal não são mistério: É que a gentinha que governa agora É o rebotalho que sobrou do Império. . [Bastos Tigre] . . . Fernando Pessa diria... E ESTA, HEIM!.
Convido-vos a escolher o mais divertido destes Sonetos
Tenham um bom fim de semana! . .