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22 de fevereiro de 2010

Porque me apetece poesia... diferente...

.
Uma descoberta recente e... surpreendente...
Espero que gostem...
[clique na imagem para aumentar]


Perfis decadentes



Através dos vitrais
ia a luz a espreguiçar-se
em listas faiscantes,
sob as sedas orientais
de cores luxuriantes!


Sons ritmados dolentes,
num sensualismo intenso,
vibram misticismos decadentes
por entre nuvens de incenso.


Longos, esguios, estáticos,
entre as ondas vermelhas do cetim,
dois corpos esculpidos em marfim
soergueram-se nostálgicos,
sonâmbulos e enigmáticos...


Os seus perfis esfingicos,
e cálidos
estremeceram
na ânsia duma beleza pressentida,
dolorosamente pálidos!


Fitaram-se as bocas sensuais!
Os corpos subtilizados,
femininos,
entre mil cintilações
irreais,
enlaçaram-se
nos braços longos e finos!
..........
E morderam-se as bocas abrasadas,
em contorções de fúria, ensanguentadas!
..........
Foi um beijo doloroso,
a estrebuchar agonias,
nevrótico ansioso,
em estranhas epilepsias!
..........
Sedas esgarçadas,
dispersão de sons,
arco-iris de rendas
irisando tons...
..........
E ficou no ar
a vibrar
a estertorar,
encandescido,
um grito dolorido.

Judith Teixeira

Novembro - Hora das Visões
1922

31 comentários:

Mar Arável disse...

Intemporal

Pata Negra disse...

...subtilizados??! Os corpos femininos?
- São lésbicas!!! Tornai Satanás!!!
A poesia não pode compactuar com estas aberrações da natureza!
... e no entanto respeito tanto a ternura de duas mulheres entre cetins!
Um abraço de filho de mulher

São disse...

Mas porque não nos despimos de preconceitos?

Um abraço

Cid Simões disse...

A coragem abraçando a liberdade.

duarte disse...

enlaçe...
belo.
mais uma leitura profícua.
abraço do vale

Meg disse...

Mdsol,

Obrigada pela visita.

Beijinho

Meg disse...

Mar Arável,

Intemporal ma, como podes verificar, pouco apreciada... o que até se entende.

Um abraço

Meg disse...

Pata Negra,

Obrigada pela tua presença neste post que adivinho incómodo.
Obrigada pelas tuas palavras...sempre queridas.

Um grande abraço

Meg disse...

São,

Como te dou razão... pois!
É que, sinceramente, pensei que Judith Teixeira suscitasse mais interesse.

Beijinho para ti

Meg disse...

Meu caro Cid,

E a coragem continua a ser penalizada, como podes ver...

Um abraço

Meg disse...

Duarte,

Fico feliz por teres gostado.

Um abraço

bettips disse...

Tu, que buscas?!
Encontras a resposta em poesia mal-dita e tão de todos nós.
Bj

Ana Tapadas disse...

Pouco conhecida como outras mulheres que escreveram e ficaram o pó dos livros. Incómodo escrever assim, especialmente, naquela época. Ainda bem que te apeteceu uma poesia diferente!
Beijinho

José Lopes disse...

Não conhecia a autora, mas suspeito que na época não terá tido muito sucesso com este tipo de poesia.
Cumps

romério rômulo disse...

meg:
gostei.
um beijo.
romério

Luna disse...

Diferente e lindo, boa escolha
beijitos

BAR DO BARDO disse...

Bom conhecer!

Mª João C.Martins disse...

Meg

O erotismo na poesia, nem sempre foi um assunto fácil quando a mão que escrevia tinha na alma um corpo de mulher.
Diferente... belo e especial, como " um beijo a estrebuchar agonias"

Obrigada, Judith Teixeira... a reter!

padeirinha disse...

Desconhecia: gostei bastante. Bom fim de semana!

LLEAL disse...

Prezada Meg,

A sutileza na seleção das entradas mostram uma personalidade de extremada inteligência.
Condição pela qual coloquei-me como seguidor.
Meu coração de escritor pede permissão para deixar-lhe convite para visitar-nos e ser parte de nosso grupo de amigos.

http://www.llealenglishcourse.blogspot.com

Parabéns pelo Blog

LLEAL

Meg disse...

Bettips,

Na busca me consumo... com prazer, minha amiga.
Agora foi uma poeta praticamente desconhecida, com uma coragem inimaginável para a época.
Marginalizada, esquecida e aqui recordada.

Beijinho para ti

Meg disse...

Ana,

Desconhecia a autora e foi com muita surpresa que li a sua biografia. SÓ pretendi partilhar esta descoberta.

Beijo

Meg disse...

Guardião,

Não teve vida fáicil, não!
Mas enfrentou corajosamente os preconceitos da época. Mas foi vencida e esquecida.

Um abraço

Meg disse...

Romério,

Muito obrigada, meu Poeta.

Beijo

Meg disse...

Multiolhares,

Sabes que gostaste faz-me muito faliz, Luna!

Beijinho

Meg disse...

Bar do Bardo,

Ter-te aqui é um prazer e uma honra. Se gostares, tanto melhor.

Beijo

Meg disse...

Maria João,

E saber que estes poemas foram escritos há um século... por uma mulher, é quase inacreditável.

Beijos

Meg disse...

Padeirinha,

Fico feliz por teres gostado.
Bom fim de semana para ti também.

Beijinho

Meg disse...

LLeal,

Muito bem vindo a este espaço e desde já agradeço as bonitas palavras com que brindou este blog.
Espero que se sinta bem por cá, é um blog de amigos.

Logo que possível terei o maior gosto em visitar o blog que indica.

Um abraço e bom fim de semana.

Unknown disse...

Desconhecia a poetisa e a obra.

O poema é extraordinário.

(Se bem me lembro, sem ser injusto para ninguém, a última vez que vi uma poetisa a criar brado com a sua obra, tal era a inovação, foi Adília Lopes.

Duarante a primeira fase do Sec. XX, houve muitos autores que espantaram.

Nos dias que correm dar notoriedade às obras já ocorre de outra maneira.)

Saudações

utopia das palavras disse...

Infelismente o preconceito é cego e ainda o grito de querer ser um Ser Pleno continua dorido!

Muita coragem da autora,na assunção de uma poesia contestatária, rebelde, liberta e tão pertinente!

Beijo Meg