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7 de agosto de 2008

Momentos de Saudade

Pôr do sol na Inhaca
Imbondeiro
Canto do Nosso Amor sem Fronteira
Estamos juntos.
E moçambicanas mãos nossas
dão-se
e olhamos a paisagem e sorrimos.
.
Não sabemos de áreas de esterlino
de câmbios
vistos de fronteira
zonas de marco e dólar
portagem do Limpopo
canais de Suez e do Panamá.
.
Amamo-nos hoje numa praia das Honduras
estamos amanhã sob o céu azul da Birmânia
e na madrugada do dia dos teus anos
despertamos nos braços um do outro
baloiçando na rede da nossa casa na Nicarágua.
Ou
com os olhos incendiados
nos poentes do Mediterrâneo
recordamos as noites mornas da praia da Polana
e a beijos sorvo a tua boca no Senegal
e depois tingimos mutuamente
os lábios com as negras amoras de Jerusalém
ambos entristecidos ao galope dos pés humanos
sem ferraduras mas puxando riquexós.
Karingana ua Karingana
José Craveirinha AUTOBIOGRAFIA «««««»»»»» .
Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo.
Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José.
Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine.
Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato.
A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.
Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão.
E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais.
Por isso, muito cedo, a terrra natal em termos de Pátria e de opção.
Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.
Nasci ainda outra vez no jornal "O Brado Africano". No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.
Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu.
Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo.
Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria.
Por parte de minha mãe, só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidata.
Minha grande aventura: ser pai.
Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também.
Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes,
altas horas a noite.
.
José Craveirinha,
Autobiografia, 1977
.
.
.
Porque se dirige a TODOS os amigos do Poeta e deste blogue...
publico este comentário deixado por Romério Rômulo.
.
meg:
.
deixo meu grande abraço a todos os amigos daqui e deixo o convite ao
.
obrigado.romério
.
.

44 comentários:

José Lopes disse...

Um pôr do sol com as cores quentes dos trópicos, e uma viagem em palavras de um poeta da nossa terra, e do mundo.
Cumps

Maria disse...

Fico sem palavras para te agradecer este post.
Adoro Craveirinha.
Ler a sua autobiografia é também um exercício de reflexão...

Obrigada, Meg

Beijos

sol poente disse...

MEG
Bonito demais. Bonitas as imagens e as palavras, a descoberta e a ternura. E a saudade que evola de tudo o que nos escreves.
Lindo.

Lídia Soares

Sei que existes disse...

É um lindo poema acompanhado por fotos mesmo a condizer.
Obrigada pela informação.
Beijo grande

zef disse...

Olá, Meg
Lindo sol e poema!
Boa noite.
Um abraço

Isabel Filipe disse...

saudades sim ...


gosto muito dos poema de José Craveirinha.


beijinhos e bom fim de semana

Moacy Cirne disse...

Minha cara, publiquei no blogue do Poema/Processo um dos quadros reproduzidos por você aqui. Beijos.

Meg disse...

Amigo Guardião,

É bom viajar no tempo, com palavras e imagens inesquecíveis.
Um abraço

Meg disse...

Maria,

Nem sempre apetece "chafurdar" na realidade triste deste país.
Recordemos então.
Beijos, Maria

Meg disse...

Lídia,

Estas imagens são um bálsamo. Lídia, são o oásis neste dia a dia de terror e espanto.
Um abraço

Meg disse...

Sei que existes,

São recordações, são memórias a que recorro quando a saturação chega.
Já nadei naquela água, já percorri aquela passadeira...
Um abraço

Meg disse...

Zef,
Que bom ver-te por cá.
Como é bom recordar aquele imbondeiro e ler o Craveirinha!
Um abraço

Meg disse...

Isabel,
Craveirinha por ele próprio... fantástico retrato.
As imagens, tu sabes... tu conheces.
Um abraço

Meg disse...

Meu caro Moacy,

É um carinho da sua parte que agradeço. E uma honra.
Um grande abraço da Meg

Mar Arável disse...

Com os olhos incendiados

remo no meu mar

à procura de destinos

Meg disse...

Mar Arável,

Os olhos podem continuar a incendiar-se porque os destinos estão lá. Estes. O mar e o imbondeiro!
Um grande abraço

Papoila disse...

Querida Meg:
Saudades! Saudades desse por-do-sol, dos imbondeiros dessa Terra Mãe África.
José Craveirinha com um poema intemporal e uma biografia maravilhosa.
Beijos

Anónimo disse...

A HISTÓRIA é feita destes pequenos GRANDES homens. Felizes os países que os sabem estimar. Bjs

f@ disse...

Imbondeiro mto bonito... e o canto do amor sem fronteira....tudo sem fronteira, bonito beijinhos das nuvens

Meg disse...

Querida Papoila,

Cansada por tanta "miséria" que nos rodeia, que melhor bálsamo para o espírito que este mar e este imbondeiro de tronco imenso?
Beijos

Meg disse...

Jo,
Tens razão, é um grande escritor, um grande poeta, esta é uma simples homenagem às palavras que tanto nos sensibilizam, principalmente quem viveu por aquelas paragens.
Uma boa semana e um abraço

Meg disse...

F@,
E mesmo das nuvens, te agradeço o comentário.
Uma boa semana e um abraço

Anónimo disse...

meg:
deixo meu grande abraço a todos os
amigos daqui e deixo o convite ao
http://romerioromulo.wordpress.com
e vejo que o moacy cirne está pre-
sente.
obrigado.
romério

Unknown disse...

Passei apenas para desejar uma boa semana.

Abraço.

marinheiroagaudoce a navegar

Menina Marota disse...

E a saudade no peito dói, dói de cada vez que olho assim o pôr do sol ou o velho Imbomdeiro...

Excelente este momento, que foi de saudade, de amor, de ternura e de...dor.

Beijinhos e boas férias, neste caso bom trabalho em tempo de férias. ;)

Mariazita disse...

A minha colaboração no SEMPRE JOVENS é às Terças-Feiras.
No meu blog, A CASA DA MARIQUINHAS, faço postagens Aos Domingos e Quintas Feiras.
Como no próximo dia 15 vou ausentar-me, para férias, gostaria de contar com a tua presença e comentário nestes dois últimos posts, o que antecipadamente agradeço.
Felicidades. Até Setembro.
Beijinhos
Mariazita
PS – Guarda esta informação, que é preciosa -:)))

Meg disse...

Querido Romério,

Obrigada pela tua visita e pela mensagem que deixas aos teus amigos, os amigos deste blog.
Por ser dirigida a TODOS, vou dar um destaque no fim deste post.

Um abraço

Meg disse...

Amigo Marco,

Em pleno Agosto, uma boa semana e um grande abraço para ti também.

Meg disse...

Menina Marota,

Fico feliz por estares de volta e por te receber mais uma vez aqui.
África na Recalcitrante é uma constante, como sabes e sentes.
É o que nos sobra, minha amiga.
Um grande abraço

Meg disse...

Mariazita,

Umas óptimas férias e um regresso em força,
Um abraço

Mariazita disse...

Querida Meg
Maravilhoso poema, a que apetece chamar "Amor Universal".
Recordar África é sempre muito bom.
Adorei a biografia de Craveirinha.
Uma lição para muitos de nós.
Obrigada, minha amiga.
Beijinhos
Mariazita

Meg disse...

Mariazita,

Como já deves ter percebido, África foi "quase" o meu berço, ou ainda, ainda chegou a ser o meu berço. Trago-a comigo. E Craveirinha é África, a "minha" África.
Beijos

Anónimo disse...

Não sei se gostei mais do poema ou da autobiografia! Excelentes os dois.

anamarta disse...

Meg
Obrigada pela visita, e atenção em relação ao meu estado de saúde. Sinto-me melhor, embora os dedos ainda estejam muito limitados.
Um Belo poema com imagens adequadas, e com a qualidade de sempre.
Um abraço

Pata Negra disse...

Gosto de poesia. Esta poesia foi escrita por um poeta. Poeta diz-se da pessoa que escreve poesia. Está aqui uma poesia muito linda. A pessoa que escreveu a poesia deve, por isso, ser uma bela pessoa. Hoje eu estou de mau humor - desgraça minha com a graça do poeta. Não sou dessa gente que já correu mundo, nunca saí da minha aldeia - inveja? Não! Mas não pertencemos a mesma poesia, pertencemos apenas às mesmas sombras e ao mesmo sol. Seremos sempre amigos porque somos poetas!
- O que é que estou para aqui a escrever? Tornai Satanás! Eu não sou poeta! Sou apenas recalssicrítico!
Um abraço de visitante inconveniente

Agulheta disse...

Meg.Lindo este post,com um poeta que adoro,sem palavras e ler esta autobiografia,é uma mais valia para paartilhar ler e gostar,adorei.De regresso beijinho por este trabalho e por tudo o mais Lisa

De Amor e de Terra disse...

Minha querida Meg, boa tarde!
Tenho andado muito fugida e só muito de vez em quando é que posso vir "ver" as Amigas e Amigos que por cá tenho feito.
Agradeço a partilha(s)com que nos brindas, o comentário no meu Blog e prometo que em breve voltarei com mais tempo.
Beijos da
Maria Mamede

Menina do Rio disse...

Olá querida!
Vim te agradecer a visita e deixar-te um beijinho. Ando meio ausente por problemas de saude, mas tento retribuir o carinho dos amigos.

Fique bem

Meg disse...

Luisa,

Para mim também é difícil escolher
entre as imagens e o poema. Craveirinha é um dos meus poetas africanos.
Um abraço

Meg disse...

Anamarta,
Gostei e agradeço a visita e espero que te recomponhas tão breve quanto possível. Essas coisas levam tempo. Mas tudo voltará ao normal, assim o desejo.

Um abraço

Meg disse...

Meu caro recalssicrítico!

Espero que já não estejas de mau humor, mas quando isso acontecer, tens aqui um refúgio sempre pronto a receber-te... mesmo que estejas muito recalssicrítico!

Um grande abraço

Meg disse...

Lisa,
Bem vinda, minha amiga.
E obrigada pela visita tão pronta.
Se gostaste, fico feliz.
Um abraço

Meg disse...

Querida Maria Mamede,

Como vês também eu ando em maré de ausências... o trabalho e não só.
Mas em Setembro retomarei as visitas normais.
Gostei de te saber bem e de te receber...
Um grande abraço

Meg disse...

Verónica,

Gostei de te ver mas lamento que não estejas bem... espero que tudo volte oo normal bem depressa, que a saúde é o bem maior que temos.
Com os meus votos de rápidas melhoras, um abraço para ti