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16 de setembro de 2010

Ai! Se sêsse!... Irresistível...

"Poesia de Cordel", pela mão do amigo Romério Rómulo.



Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!
Ai! Se sêsse!...

Zé da Luz


 Por Manuel  Bandeira (*)

“Se eu falar de Severino de Andrade e Silva, ninguém saberá quem é.
E o que adiantaria saber que se trata de um caboclo franzino e feio, nascido em Itabaiana, na Paraíba, aos 29 de março de 1904, filho de pais pobres, que não lhe puderam dar senão a instrução primária, alfaiate de profissão até 1951, quando foi aposentado por invalidez pelo Instituto dos Comerciários.
Mas Severino tem outro nome e deste todo mundo já ouviu falar: Severino é Zé da Luz, poeta-cantador, já consagrado pelo livro Brasil Caboclo (...)Zé da Luz, depois de publicar Brasil Caboclo, veio de mudança para o Rio e, durante muitos anos, ganhou a vida cortando roupas para O Pavilhão, casa vizinha à Livraria José Olympio, rende-vous de figuras ilustres das letras nacionais.
Todavia, o alfaiate-cortador continuou poeta, e a saudade de sua Paraíba, da ainda mais sua Itabaiana, veio desovando nos versos deste Sertão em Carne e Osso, versos mais tristes do que os do primeiro livro, mais líricos.” (…)

(*) Manuel Bandeira, um dos maiores poetas brasileiros do Século XX.



28 comentários:

romério rômulo disse...

meg:
este poema do zé da luz é marcante.
um beijo.
romério

Zé Povinho disse...

A divulgação de autores que eu desconheço, e não serei o único, é uma agradável surpresa neste sítio. Obrigado, Meg.
Abraço do Zé

Ester disse...

Que delícia de cordel! Amo....

Adorei passar aqui!

Bjs!

Meg disse...

Romério,

Se não fosses tu, eu jamais teria chegado ao Zé da Luz e à Poesia de Cordel.
Adorei, e vou publicar mais.

Um beijo

Meg disse...

Zé,

É um refrigério, meu caro.
Depois de ouvir a toda a hora na televisão, pela boca dos mais ilustres(?):
pelaquilo... em vez de por aquilo (todo o mundo)
se...cabesse... em vez de coubesse (eminência parda na tv);
albarroar em vez de abalroar (por uma eminente comentadora e professora universitária...;
Depois ouvi a apresentação da ministra da educação e fiquei ainda mais "aterrada"
Como não admirar a pureza deste Zé da Luz?

Um abraço

Meg disse...

Ester,

Muito abrigada pela sua visita, e seja bem-vinda a este blog.

Acabei de descobrir o Zé da Luz e ofereço-o aos meus amigos com o maior prazer.

Venha sempre.

Um beijo

Mª João C.Martins disse...

Meg

Há sempre algo de novo no teu blogue, para beber até à última gota. Como se água fresca bebêssemos, sequiosos.

Por isso é sempre tão prazeroso vir aqui.

Obrigada!

Um beijinho enorme

Jorge Manuel Brasil Mesquita disse...

Estiquei o cordel todo e gostei do que estendi e entendi e do comentário meio biográfico de Manuel Bandeira.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 16/09/2010

Mar Arável disse...

Excelente

sem mais palavras

Meg disse...

Maria João,

Foi pela mão de RR que conheci estes poemas, este poeta.
Fiquei tão maravilhada, que dei comigo a ler alto para me ouvir.
E não vou ficar por aqui, que é com estas coisas simples que o nosso coração muitas vezes se acalma das desgraças do dia a dia.
Mais virão, asseguro-te.

Beijo

Meg disse...

Jorge,

É sempre um com orgulho que o vejo por aqui.
Haverá mais cordel...para estender.

Um abraço

Meg disse...

Mar Arável,

Excelente sem dúvida!
Estamos mais uma vez em sintonia.

Um abraço

Ana Tapadas disse...

temos que agradecer-te e ao POeta Romério Rômulo. De facto, excelente.
Beijo

José Lopes disse...

Um poeta com linguagem simples e verbo fácil.
Cumps

romério rômulo disse...

meg:
outro importantíssimo é o zé limeira,
analfabeto,cantador, que ficou como
"o poeta do absurdo".
um beijo.
romério

Unknown disse...

Belíssima edição.

Gostei do novo grafismo do Blogue.

Bjs

Pata Negra disse...

Este blog revelador é uma nascente de revelações. Foscasse!
E assim me irrevelo com um revelante abraço à Meg como forma de me abraçar a tantos poetas.
Obrigadasse

samuel disse...

Delicioso! Muito bom!

Abraço.

Meg disse...

Ana,

Romério é um grande Poeta que me honra muito com a sua amizade.
Com ele tenho percorrido - atabalhoadamente, é claro! - alguns caminhos que desconhecia.
E a Poesia de Cordel começa agora.
Temos de ter a capacidade de nos surpreender com palavras tão simples mas tão belas deste poema. simples...

E se os meus amigos gostarem... fico mais feliz ainda.

Um beijo

Meg disse...

Guardião,

Verbo fácil, mas de uma pureza a que já não estamos habituados.
Lava-nos a alma... a mim pelo menos.

Um abraço

Meg disse...

Romério,

A minha pesquisa vai por aí também.
Já li algumas - poucas coisas - julgo que no Balaio, mas tenho muito trabalho e prazer pela frente.

Um beijo

Meg disse...

Meu querido Pata Negra,

Não sei escrever, como tu e tantos outros o fazem, sobra-me a possibilidade de partilhar estas pequenas pérolas que vou descobrindo...
E com amigos como tu, é com muito prazer que o faço.

Um abraço sem modorra (?!?!?)

Meg disse...

Caríssimo JPD,

Muito obrigada pelas suas palavras... são de amigo que pode reclamar da minha ausência, forçada mas ausência.
Estou a recomeçar...

Um abraço

Meg disse...

Samuel,

Deliciosa... é isso mesmo. O adjectivo correcto para a leitura deste poema.
E se precisamos destes momentos...!

Abreijos

Sofá Amarelo disse...

Genuíno como as coisas simples são... um tipo de poesia que não se faz em Portugal, talvez por os portugueses muitas vezes fazerem poesia a pensar no que os outros vão pensar. E em Portugal há muita coisa que se faz em função da possível crítica. Os brasileiros não têm essas inibições. E ainda bem.

Luna disse...

a poesia existe dentro de cada sere é fabuloso ver como sai sentida e do coração dos seres mais simples
Bj

Meg disse...

Sofá Amarelo,

Esta é uma poesia muito genuína... que me diz muito.
Acho que tens razão, para lá dos trópicos, sente-se a vida de um modo diferente. Eu sei.

Um beijo

Meg disse...

Luna,

E há um século e tanto atrás, minha amiga.

Um beijo