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4 de outubro de 2008

Isto de ser poeta

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Paul Gauguin, Soyez Mysterieuse

Isto de ser poeta
(posso dizer que depois de a ler
não posso abrir “ o quarteto
a solo” incomoda como andar
ao Sol num dia de verão
sem ter um banco de jardim
onde pousar as letras)
hoje em dia um poeta
vale menos do que um cão
isto de deixar fugir os versos
pela internet dentro
causa-me uma grande aflição
e se amanhã eles não estiverem lá
que posso eu fazer
é muito perigoso escrever livros
hoje em dia hoje
vêm os vírus e apagam tudo
afectam as paredes do pc
não fica mesmo nada
é como se fosse tudo cego
o écran esconde as letras todas
ai senhor doutor ai senhor
doutor tenho uma dor de versos
tenho muito medo
preciso que me valha
sofro com isto tudo
é como se o meu sangue
fugisse todo pelo écran dentro
acordar de manhã ir ao sítio certo
e não ver lá nada
isto de ser poeta é uma grande aflição
ai senhor doutor ai senhor
doutor se calhar o melhor é ficar quieta
não escrever nada ficar muito quieta
ficar tudo na cabeça não usar shampoo
porque os versos podem apagar-se
fugir todos como no écran
ai senhor doutor o remédio é ficar quieta
escrever coisas sem importância
pode alguém espreitar e apagar tudo
que é pior do que roubar alguém
pois não fica nada
e amanhã senhor doutor os poetas
escreverão poemas
só com uma simples troca de olhares
e os versos voltarão a ver-se
ai senhor doutor ai senhor doutor
isto de ser poeta
é uma grande aflição
.
Maria Azenha
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«««««o»»»»»
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34 comentários:

Pata Negra disse...

Pois é, qualquer dia um vírus entra pelos servidores adentro, como um incêndio que queima todas as bibliotecas do mundo, e lá se vão todas as poesias e prosas destes tempos. Que se lixe! Nascerão outros poetas e prosadores que inventarão as mesmas palavras.
Um abraço efémero

tulipa disse...

OLÁ MEG

Muitos parabéns pelo teu blog, está cada dia mais bonito!!!
Merecida e bela homenagem sobre o Mia Couto, estive presente no lançamento deste livro e aqui o tenho com uma dedicatória muito pessoal, pois fomos amigos de brincadeira de rua, vizinhos lado a lado, na Beira.

Bom fim de semana.
Beijinhos.

Anónimo disse...

meg:
isto de ser poeta é um boi magro no campo.uma pedra perdida no sapato.
um beijo.
romério

Amaral disse...

Meg
É verdade ser poeta já não é "ser mais alto... maior que os homens".
Bom fim-de-semana
Abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

MEG
A poesia não é compativel com a frieza dos tempos mais fria nas tecnologias e nos actores que agem no escuro e apunhalam pessoas inocentes.
É tudo virtual mas é tudo muito cruel.
Isto de ser poeta é uma grande aflição até porque para se ser poeta é preciso ter alma transbordante.

Abraço

Meg disse...

Pata Negra,
Digamos que é uma prova de que o papel é que vale. A menos que haja incêndio.
E poetas haverá sempre, valha-nos isso.
Um abraço amigo

Meg disse...

Tulipa,

Felizarda que és, Tulipa. Ter privado com Mia Couto nas nossas paragens não é coisa de menos. E cada livro autografado é uma relíquia. Parabéns.
Um abraço

Meg disse...

Romério,
Esta definição de poeta só podia vir mesmo de ti. E até deve ser verdade, se tu o dizes!!!

Um beijo

Meg disse...

Caro Amaral,

Não sou tão pessimista... ainda o serão alguns "mais alto... maior que os homens".
Um abraço

Meg disse...

Lídia,

"Isto de ser poeta é uma grande aflição até porque para se ser poeta é preciso ter alma"... é verdade.
Esse é na verdade o drama nos dias de hoje.

Um abraço

José Lopes disse...

A poesia reinventa-se na boca, na pena e nos teclados dos poetas, que sempre existirão. Valha-nos isso!
Bfds
Cumps

Mar Arável disse...

Neste tempo e nos anteriores

e ainda nos amanhãs

a poesia serve para fazer pensar?

Será esse o problema

Moacy Cirne disse...

Sim, é verdade, é verdade: isto de escrever versos é uma grande aflição. Sim, é verdade: escrever - e ler - livros pode ser muito perigoso. Assim como perigoso é pensar. Beijos & cheiros.

Carminda Pinho disse...

Meg,
isto de ser poeta, é escrever o que vai na alma mas, no papel...
Depois, há as pessoas que gostam tanto de poesia, que fazem como tu...
Publicar a boa poesia dos outros na internet, é homenagear os poetas e a poesia.
Os amigos, como eu, agradecem.:)
Obrigada.

Beijos

MPS disse...

Cara Meg

Fiquei assim, a modos de quem não tem nada para dizer. Não se apagaram as letras; apenas não se fez luz.

Um abraço

Agulheta disse...

Meg. Ser poeta é ser diferente,quem publica o seu trabalho e suas letras,é como um pensamento que jamais se esqueçe,o blog, esta bonito. Beijinho e bom Domingo

Meg disse...

Caro Guardião,

É pela mão dos poetas que nos refugiamos da realidade mais crua.
Boa semana
Um abraço

Meg disse...

Mar Arável,
Se calhar tem razão. Pensar nem sempre é bem visto, e traz consequências.
Um abraço

Meg disse...

Caro Moacy,
Vejo que estamos na mesma onda.
Ler e pensar pode ser muito perigoso...
Com a poesia é a mesma coisa.

Cheiros para você também!

Meg disse...

Carminda,
Para quem não é poeta, mas gosta de poesia, o maior prazer é tentar partilhar o que se lê - o que nem sempre é bem visto, como sabes.

Beijos

Meg disse...

Cara MPS,

Às vezes acontece, mas não é grave, tratando-se de quem se trata, minha amiga.
A sua presença, só por si, é um carinho que muito estimo.
Um abraço

Meg disse...

Lisa,
Ser poeta é um dom para muito poucos. Mas esses sobrevivem a todos perigos da net - viva o papel.
Boa semana
Um abraço

lupuscanissignatus disse...

poesia

irrigada

pelo

sur real


(e alagada
de ironia)

Mariazita disse...

Querida Meg
Por muitos vírus que ataquem, a boa poesia há-de sobreviver, para nosso bem.
Se as palavras desaparecerem dos écrans, contiuam vivas na memória de quem as escreveu e de quem as leu, ou seja, não morrem!
Beijinhos
Mariazita

Menina Marota disse...

Só tu me fazias rir! E por quantas situações destas já passei... estar a escrever e o pc... plof... vai abaixo e lá vai tudo o que escrevi... :((

Gostei de te ler.

Beijinhos e boa semana ;))

Peter disse...

Maria Azenha, uma grande senhora da poesia. Orgulho-me de ter o seu blog (Maat) nos n/links.

Meg disse...

Lupussignatus,

Surreal, talvez, sim.
Um abraço

Meg disse...

Mariazita

As palavras e a poesia não são aprisionáveis - perduram na memória daqueles que as amam e as cultivam.

Um abraço

Meg disse...

Menina Marota,

Dizem que há uma coisa que se pode e deve fazer: SALVAR.
Se nos lembrássemos disso poupávamos alguns dissabores, o que nem sempre acontece,ahahahah!

Beijinhos e boa semana

Meg disse...

Peter,

Sou da mesma opinião, por isso a presença da Maria Azenha, de vez em quando.
Também sou leitora dos vários blogs dela e dos seus heterónimos.

Um abraço

Delfim Peixoto disse...

Definitivamente, POESIA!!!

Anónimo disse...

Ai senhor Doutor, mais vale criar na net e apanhar virus, que aguentar os editores.

Meg disse...

Caro Delfim Peixoto,

Pois que seja definitivamente Poesia, sem dúvida.

Um abraço

Meg disse...

Cara Padeirinha,

Isso dos editores é que já é um assunto que me ultrapassa, já que pelos vistos os virús não a assustam. Razões que a (minha) razão desconhece.

Um abraço