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18 de outubro de 2008

Ilha de Ibo

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Um poema de Mia Couto e
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imagens da ilha de Ibo... para sonhar no fim de semana
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Ilha de Ibo
Pequena borboleta
com asas de corais vermelhos
a nossa ilha
não foi criada para cela
onde morrem os meus irmãos

o nosso mar

não foi feito para grades
onde se ensombram os olhos,
os olhos negros dos meus irmãos. (...)

—assim me contaram
os que sobreviveram.
E enquanto os olhos dos peixes

guardavam a luz e levavam
o dia para o fundo do mar
as mãos assassinas dos carrascos
vasculhavam segredos
rasgando na carne dos prisioneiros
a incurável ferida de serem homens,
companheiros firmes e leais.

Dizem ainda que eram os pescadores

que remando entre a fome
e a ilha da fortaleza
traziam a lua perto das marimbas
cujo canto se espalhava
sobre as ondas inquietas
e sossegava o peito cansado
dos meus irmãos.

Mas os carrascos não sabiam

(talvez porque fossem
ainda mais prisioneiros que os meus irmãos)
que uma fortaleza
cheia de crimes incontáveis
pesa demasiado
para uma pequena borboleta vermelha
com asas de corais vermelhos

e a ilha-prisão submergiu

levando consigo
um tempo manchado de sangue
de sangue dos meus irmãos.


Mia Couto.
«««««o»»»»»
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Fotos de "Pelo leste do sul de África"
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44 comentários:

Bípede Implume disse...

Seria um excelente fim de semana visitar a ilha de Ibo.
Lindo e forte poema da Noémia de Sousa.
José de Pádua e as suas imagens tão bonitas.
Faz bem à alma passear por aqui.
Beijinhos e bom fim de semana.

Anónimo disse...

meg:
belo poema do mia couto.
deixo meu abraço aos amigos daqui.
um beijo.
romério

Zé Povinho disse...

A beleza será sempre tema para a poesia, ainda que polvilhada pelas memórias. O homem tem sempre o dom de estragar quase tudo o que toca, mas a natureza resiste, regenera-se.
Abraço do Zé

Pata Negra disse...

Desta vez a poesia passou pela paisagem sem a estragar! Não raras vezes os poetas a poluem com palavras obtusas e olhos de avião.
Não é para perceber.
Um abraço despercebido

Peter disse...

Esta ilha é frente a Porto Amélia?

O inesquecível Mia Couto.

De António Ramos Rosa, o meu poeta preferido:

"A mão silenciosa percorre o dorso cálido
que é um adormecer contínuo nos limites.
Nada mais que terra e solidão solar.
Nada treme e tudo está suspenso no vazio.
Nada se diz.É o silêncio da palavra"

Maria disse...

Perdi-me a ver as fotos.
Perdi as palavras do Mia. Vou lê-lo outra vez. Ele é simplesmente fantásticos em tudo o que escreve.

Obrigada, Meg.
Beijinhos

Meg disse...

Bipede Implume,
É para aqui que apetece fugir, quando penso na realidade amarga dos nossos dias.
Um abraço

Meg disse...

Querido Romério,

Sei que também gostas de Mia Couto... isso me deixa feliz.

Espero que os teus e nossos amigos, tomem conhecimemto deste abraço que lhes deixas, por isso este destaque.

Um beijo para você

Meg disse...

Amigo Zé,

É verdade, só a natureza resiste aos atentados provocados pelo homem, precisamente porque se regenera.

Um abraço

Meg disse...

Caro Pata-Negra.

Vejo que gostaste das paisagens, para além do poema.
Um abraço amigo

Meg disse...

Peter,
Pemba, é hoje a antiga Porto Amélia, onde fica a ilha do Ibo.
Tens razão.
Também gosto muito de Ramos Rosa.

Um abraço

Meg disse...

Maria,
Também me perco nas imagens... e as saudades dos cheiros, de tudo...

Um abraço

Moacy Cirne disse...

Pelo visto, Mia Couto não é apenas um ótimo ficcionista... Beijos. Cheiros. Queijos.

Amaral disse...

Meg
Parabéns. Lindas as imagens a fazerem-nos sonhar férias paradisíacas.
O poema? Fabuloso.
Boa semana
Abraço

Meg disse...

Amigo Moacy,
É verdade, Mia Couto não é só um ficcionista, ou romancista, mas um poeta também.
Retribuo com carinho os beijos, cheiros e queijos...
Um abraço

Meg disse...

Amigo Amaral,
Tempos que já lá vão... mas como é bom recordar a tranquilidade nestas imagens!
O poema é do Mia e está tudo dito.

Um abraço

Anónimo disse...

Que lindo teu blog Adar com um texto maravilhoso. muito boas, mo' gostou muito, da mesma maneira que o blog, obrigado muito.

pin gente disse...

não conhecia, meg!
e gostei muito de ler, obrigada.
um beijo
luísa

Agulheta disse...

Meg. Lindo e excelente o poema aqui postado.
Beijinho de amizade

Filoxera disse...

Poema pesado, com fotos de uma beleza rara.
Aquelas águas, aquelas acácias rubras...!
Beijos.

Meg disse...

Naturline,
Obrigada pelas palavras

Cumps

Meg disse...

Pin Gente

Fico feliz por ter gostado.
Boa semana

Um abraço

Meg disse...

Lisa,

Como tudo o que Mia Couto escreve, este é também um belo poema... embora de certo modo triste.
Boa semana para ti

Um abraço

Meg disse...

Filoxera,
O poema é pesado e é triste mas como vês Ibo é lindo, daí a razão do poema.
Boa semana e um abraço

vieira calado disse...

Belo... e belo!
Cumprimentos

C Valente disse...

Belas imagens com um lindo poema
Saudações amigas

MPS disse...

Lindíssimas, as fotografias. Sentido, o poema que não conhecia.

Também não sabia que na ilha de Ibo (tão importante para Portugal controlar a rota do Cabo) alguma vez tivesse havido uma prisão. Sabia da fortaleza, com motivos de defesa e, provavelmente, lá haveria ajuntamento de escravos. Da prisão é que não ouvira falar.

Todos os lugares são belos de mais para que lá se ergam prisões.

Um abraço

Isabel Filipe disse...

O Ibo é um local belissimo ... dos mais belos de Moçambique ...


bjs

Meg disse...

Amigo Vieira Calado,

Obrigada pela visita e por ter gostado.
Um abraço

Meg disse...

Amigo Valente,
Obrigada pelas palavras...e ainda bem que gostou do poema,

Um abraço

Meg disse...

Cara MPS

Como é que aquele paraíso tem um passado tão trágico?
O poema é bem explícito.

Um abraço

Meg disse...

Isabel,

Dá saudades e vontade de lá voltar.
Viagemos virtualmente, então!

Um abraço

Carminda Pinho disse...

Meg,

como deves ter percebido, já por aqui tinha passado...

As paisagens, são notáveis.
As palavras, límpidas, verdadeiras e completamente perceptíveis de Mia Couto, deixam-me sempre sempre assim...sem palavras para comentar.

Gosto muito do Mia, tu sabes.

Beijos

Carla disse...

um duplo sonho...as imagens de encantar e as sempre belas palavras de Mia Couto
beijos amigos

Meg disse...

Carminda

Como vês, não é preciso ter ido a África para a sentir nestas imagens de saudade.
E Mia é o Mia.

Um abraço

Meg disse...

Carla,

São imagens de memórias longínquas.
E as palavras sempre certas de um grande autor.

Um abraço

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

O Mia é assim mesmo : um eterno criador ! Ao Mia não agrada o usual, o comum, daí que vai sempre criando e recriando, mesmo alí onde o comum faz moradia. Em “Venenos de Deus, Remédios do Diabo” (oportunamente postado aqui há algum tempo) surpreende-nos no interessante diálogo: “Oh, Doutor, o senhor sofre mesmo de poesias…”! Esta de sofrer de poesias é um mui belo rasgo criativo.
E agora neste poema fala-nos (de entre outras coisas) na “incurável ferida de serem homens”!
O Mia é mesmo assim: um eterno criador e recriador!

lupuscanissignatus disse...

asas

clamando

Liberdade

Meg disse...

Meu caro Décio,
É essa forma de escrita que eu gosto em Mia, nas palavras que inventa, nas imagens poéticas que nos dá. Por isso não estranhe encontrá-lo aqui com uma certa assiduidade. Acho que todos gostam.

Um abraço

Meg disse...

Caro Lupussignatus,

É incrível como um lugar tão belo já foi uma verdadeira prisão.
Felizmente esses tempos já passaram.

Um abraço

tulipa disse...

OLÁ MEG

MOÇAMBIQUE É O VERDADEIRO PARAÍSO NA TERRA.

Muito obrigado pela partilha de mais um precioso trabalho de escrita de Mia Couto.

Convido-te a vires comigo até ao Porto, visitar um dos ex-libris da cidade Invicta.

Recebe pétalas de tulipa impregnadas de abraços.

Meg disse...

Tulipa,

Moçambique era, e espero que continue a ser um paraíso. Porque a natureza se regenera.
E o Mia é o Mia... sempre.

Um abraço

Anónimo disse...

Verdadeiramente lindo, e simples. E a música ajuda.Sabem bem vir aqui.

Anónimo disse...

errata: sabe bemvir aqui!