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31 de maio de 2008

Discurso no Parlamento

.
.
,
Às estrelas
Vou falar das crianças famintas
E gritar quantas
De entre elas
Morrem de fome
Antes mesmo de terem um nome
Décio B. Mateus
.
.
.
José de Pádua

Um dia, encho-me de coragem
E vou mesmo discursar no parlamento

Confesso que fiz juramento
De ir a pé até lá
De entrar naquela sala,
Para discursar a minha mensagem

Um dia, apareço nas câmaras da televisão
Verdade mesmo, não é ilusão
Apareço com o meu rosto maltratado
Com o meu rosto de drogado
Para pedir um ponto de ordem
Aos senhores deputados,

Eu mesmo que vivo do outro lado da margem
Já sei que vão olhar com indignação
Para os meus pés descalços
Para os meus calções rotos
E para os meus magritos braços
Já consigo imaginar os vosso rostos
De indignação e estupefacção

Mas mesmo assim eu vou mesmo discursar
Em plena assembleia nacional
Assim mesmo, com este meu visual
De menino de rua votado ao abandono
De menino de rua, cão sem dono
Eu vou à assembleia nacional falar

Assim mesmo, sem convite
E sem ser chamado
Eu, que não sei falar português de escola
Vou entrar naquela sala
Para falar com os senhores deputados
Eu vou lá sem convite, acredite!

E antes de me porem a andar à paulada
Antes de me mandarem calar à porrada
Vou rasgar o meu peito
Para vocês escutarem o grito
De tanto sofrimento vivido
De tanto sofrimento bebido

E enquanto estiver a ser arrastado
Para fora da assembleia nacional
Eu, menino de rua, cão sem dono e drogado
Eu, menino de rua, marginal
Ainda terei coragem
Ainda serei capaz
De trovejar a minha mensagem:

POR FAVOR, PÃO, TECTO E PAZ!

Não levem a mal
Mas eu vou mesmo discursar em plena assembleia nacional!

Décio Bettencourt Mateus
in "A Fúria do Mar"

.
.
..

«O poeta nasce do ar que respira!
E o ar que o poeta respira são as situações agradáveis, difíceis e tristes, quer de ordem material, social, emocional ou outra. A minha poesia começou a manifestar-se numa altura em que era professor e experimentava inúmeras dificuldades de ordem material pois o salário era
simbólico!
Então descobri na poesia uma forma de erguer a minha voz».


«««««<>»»»»»



DÉCIO BETTENCOURT MATEUS
Licenciado em Geofísica pela Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto, no ano de 1998. Cumpriu o serviço militar obrigatório entre 1986 e 1992, tendo atingido o grau militar de capitão. Foi professor Pré-Universitário e do ensino de base, tendo leccionado as disciplinas de Física e Matemática.
Actualmente trabalha na Industria Petrolífera.

************


64 comentários:

Agulheta disse...

Meg.
Só hoje tive tempo para vir a este espaço de que gosto,sobre este poeta e sua poesia,se vê na mesma poesia sofrida que sabe o quanto África sofre,noutros tempos por alguns portugueses,hoje por outros e até por os de lá,triste que assim seja,pois uma terra tão boa e rica?adorei a poesia.
Beijinho bfs Lisa

Zé Povinho disse...

Um discurso digno de ser proferido em qualquer Parlamento, onde muitas vezes só ecoam discursos vazios e promessas vãs.
Bom domingo
Abraço do Zé

Amaral disse...

Meg
Parabéns! Um execelente poema. Deveriamos, todos, inundar os nossos parlamentos e fazer ouvir a nossa voz; levantar a voz contra as injustiças.
Bom fim-de-semana
Abraço

anamarta disse...

Meg
Que lindo poema! um discurso que alguém deveria ter coragem de proferir em qualquer parlamento!
Em defesa das crianças que morrem de fome antes de terem um nome!
Obrigada
Um abraç e bom domingo

f@ disse...

Sim tomar um banho de chuva... (sobre a let da música) água pura ..como "as crianças aquelas que morrem de fome antes mesmo de terem nome.... "
Já conhecia este poema mas importava imenso relembrar... e foi mto bom... porque é sempre actual e está cada vez + a ser necessário grita-lo todos os dias em todos os parlamentos... mesmo que seja à força mesmo que seja à porta... mesmo que venha a bófia...
MTO BONITO
beijinhos das nuvens

Filoxera disse...

Vou voltar para ler com mais atenção. Estou cansada e amanhã a minha filha está de parabéns...
Beijos.

Meg disse...

Agulheta,
Neste caso é de África que se fala, mas... e por esse mundo fora?

Um bom dim de semana e um abraço

Maria disse...

Que beleza de poema, este...
Obrigada, Meg.
Bom domingo
Beijinhos daqui...

Carminda Pinho disse...

Meg,
fiquei sem palavras...venho mais logo comentar, talvez consiga.
Hoje só me vêm à memória as crianças que sofrem e, chego aqui...o nó há-de desfazer-se.
Até logo!

Obrigada.

Anónimo disse...

Cara Meg

Às vezes calha e, nos parlamentos, nas presidências ou tronos e nos ministérios há gente boa que ouve os gritos do peito rasgado. Às vezes calha, também, que esse grito é mostrado na televisão. Mas calha vezes de mais que, antes de poder gritar, o mendigo é abatido e o seu protesto não é ouvido nem noticiado. E os outros mendigos ficam sem saber que houve quem tentasse e vão continuar sem saber que podem tentar também. Às vezes calha, ainda, que há muitos a gritar, que há muitos a querer ajudar, mas quem manda não deixa, porque mais vale mandar sobre cadáveres do que perder o mando.

No poema fala-se de Angola cuja miséria me /nos dói. Há tantas Angolas, piores que Angola, espalhadas po esse mundo fora!

Conheço algumas obras de José de Pádua. Não me pergunte porquê, mas vejo nelas alguma semelhança com Júlio Pomar. Em ambos, seduz-me o traço e as manchas de cor na sugestão da forma. Este mendigo foi excelente escolha para encimar o poema.

Um abraço

amigona avó e a neta princesa disse...

Que bonito Meg! Obrigada pela partilha, eu não conhecia...bom domingo...

Meg disse...

Lisa,

Quando eu estava lá, não havia "isto". É um crime, não é?
Se os diamantes e o petróleo ficassem lá!!!
E também não é só em África, Lisa.

Bfs para ti também.Um abraço

Meg disse...

Zé Povinho,

Nos parlamentos as prioridades são outras... guerras de poder, Zé... tricas, que do País ninguém quer saber.
Bom Domingo para ti também, Zé, e um abraço da Meg

Meg disse...

Amaral

Caro amigo, é verdade, todos os podemos comprovar.
Lá gritar, vamos gritando, mas... nada.
Um bfs e um abraço

Meg disse...

Anamarta,

Era bom, não era?

Mas temos de nos contentar em gritar para ver se alguém nos dá atenção. E fazendo o que pudermos à nossa volta.
Bom domingo e um abraço

Meg disse...

F@

E não devia ser só no dia da criança, porque das crianças são os dias todos.
Então gritemos.
Bom domingo e um abraço

Meg disse...

Filoxera,
E se não vieres hoje, parabéns á aniversariante, vens amanhã, que o post ainda cá´estará ainda.
Um bom aniversário e um abraço

Meg disse...

Maria,

Este é o mundo em que vivemos de há uns anos para cá, minha Amiga,
A minha revolta em relação às crianças de Angola, deves compreendê-la. Aquela terra daria de comer até a Portugal, se não se tivesse num país em que as crianças valem muito menos que o petróleo e os diamantes.

Um abraço

Meg disse...

Cara MPS

Para mim, que vivi uma vida em Angola, este drama toca-me e revolta-me de uma forma especial.
Lembro-me na minha meninice da quantidade de crianças com paralisia, com aparelhos para poderem andar. Conseguiu-se a vacina e muitos anos antes de lá sair já era uma doença irradiada. Fome, cara amiga, NUNCA VI NINGUÉM PASSAR FOME.
E agora? além da fome, quantas gerações teremos de mutilados, as crianças que já são adultos, as crianças que são crianças agora?
E a terra (isso mesmo a terra vermelha), de cultivo, destruída...

Mas claro que não me esqueço das crianças de todo o mundo, de todo este desgraçado mundo!
Pronto, MPS, já ia por aí fora!

Bom domingo e um abraço

Meg disse...

AMIGONA,

Bonito e triste, não é, minha amiga! É a realidade.
Obrigada pela visita.
Um bom domingo e um abraço

Anónimo disse...

Que todos os dias sejam dia da CRIANÇA. Um bj

Odele Souza disse...

Um poema que nos toca fundo. O sofrimento alheio sempre há de nos comover e quando se trata de crianças a comoção é ainda maior.As crianças africanas, têm sido duramente atingidas pelo sofrimento.Sabemos que não é só lá que crianças sofrem, mas na África, parece que a dor é exposta de forma ostensiva e cruel.

Um beijo.

Osc@r Luiz disse...

Meg, querida,

Seu blog sempre foi recheado de conteúdo profundo e reflexivo, que sempre, sem exceção, enobrece a alma de quem o visita.
Agora então, com esse novo layout ficou ainda mais bonito e organizado.
É a evolução natural das coisas...
Claro há tempos já corrigi seus links nos meus blogs.
Apenas a correria do dia-a-dia é que não têm permitido que eu seja mais frequente.
Está mais uma vez de parabéns minha amiga querida.

Venho aqui agradecer o carinho e a solidariedade ao pedido que fiz de orações destinadas à nossa amiga Bete, mas sobretudo trazer uma boa notícia que acaba de me chegar através da sua irmã Gloria:

OSCAR

VENHO AGRADECER A PREOCUPAÇÃO DE TODOS E FELIZMENTE AVISAR QUE ELISABETE JA ENCONTRA-SE EM UM APARTAMENTO,NENHUM ORGÃO FOI ATINGIDO E FORA DE PERIGO,AGORA É SE RECUPERAR!

OBRIGADA A TODOSSSSSS!
GLÓRIA


Agradeço então a todos pela contribuição que deram para que a Bete tivesse as melhoras que teve, através de orações e pensamentos positivos.
Muito obrigado, meus amigos! De coração!
Logo ela vai estar entre nós, brincando como sempre o fez!
Me desculpem o comentário “tipo carimbo”, mas é que graças a Deus, não foram poucas as pessoas que se somaram a nós!
Muito obrigado e uma semana iluminada a todos!

Meg disse...

Tibeu

Eu sou da mesma opinião.
Que pena não poder retribuir a visita.
Muito obrigada e deixo-lhe um abraço.

Meg disse...

Odele,
É de cortar o coração o que se está a passar com as crianças, em todo o mundo.
Não há palavras.
Obrigada, Odele.
Um abraço, dois!

Papoila disse...

Querida Meg:
Tenho andado sem tempo, numa lufa lufa e com alguns problemas de saude que desconhecia... não se pode ir ao médico que nos inventam problemas...
Um discurso a ser lido em qualquer parlamento e principalmente no nosso...
Beijo

gaivota disse...

um discurso sempre presente, em dia, que deveria ser falado, refalado, até à exaustão, e resolução dos problemas, todos os que envolvem crianças!
força!
beijinhos

Anónimo disse...

Aguardemos o discurso que tarda cada vez mais...

Chanesco disse...

MEG

Eu também vou ao parlamento para ouvir e aclamar.

Um abraço

Meg disse...

Papoila,
A quem o dizes, pois o mesmo se passa cá deste lado.
Que esteja tudo bem contigo é o mais importante.
Uma boa semana para ti e um abraço

Anónimo disse...

meg:
passei aqui para deixar um abraço
aos amigos.
romério rômulo

Menina do Rio disse...

Quantas crianças morrem de fome, antes de ter um nome! Junto minha voz neste discurso!

tem uma feliz semana Meg querida

Um beijo

Meg disse...

Gaivota,

Fala-se nuito, minha amiga, agora fazer... aí é que está a questão.
Um abraço

Meg disse...

Gaivota,

Fala-se nuito, minha amiga, agora fazer... aí é que está a questão.
Um abraço

Meg disse...

Jasmim,

Mais discursos não. Precisamos é de acções e no terreno

Porque palavras lava-as o vento

Um abraço

Meg disse...

Jasmim,

Mais discursos não. Precisamos é de acções e no terreno

Porque palavras lava-as o vento

Um abraço

Meg disse...

Óscar, meu amigo,

Suas palavras são sempre um grnade incentivo. Nem precisamos falar muito, não é?

Você gostou deste layout, pois olha que eu também. mas não vou perder o outro, me aguarde!

Quando vou visitá-lo eu me pergunto sempre a mesma coisa, lembra? Quantas horas tem seu dia?

Fiquei muito feliz por esta tua visita pois sei como a sua vida é ocupada, e principalmente pelas boas notícias de que foi mensageiro.

Espero te ver mais vezes por aqui.

Um grande abraço para você.



Tem-me visto fainando por lá, não tem?

Meg disse...

Chanesco,

Meu querido amigo, e eu vou contigo, quantos mais melhor, sempre fazemos mais barulho, embora eu já esteja a ficar um tanto céptica...acho que já não vamos lá com barulho

Um abraço

Meg disse...

Romério

Em nome de todos os amigos,

receba também um grande abraço

E um abraço meu também, com muito

carinho e gratidão

Meg disse...

Menina do Rio

Verónica, obrigada pelo carinho e solidariedade das tuas palavras.
Um abraço e uma boa semana

Porca da Vila disse...

Há que discursar, há que gritar. Sempre! Dentro ou fora dos Parlamentos todos deste injusto mundo cão, tanto faz...

Que o grito há-de entrar no ouvido dos que não querem ouvir. Um dia...

Xi Grande

Meg disse...

Minha amiga Porca

Está de desanimar, não há dúvida!
Estou a ver qualquer dias temos de fazer como na América do Sul.
Tampas de tachos e panelas, se as vozes não chegarem!!!!

Um grande xi pa ti

SILÊNCIO CULPADO disse...

MEG
Excelente, excelente, excelente. Até me arripiei a ler o poema do discurso no parlamento.
Aqueles senhores ricos que falam da fome, bem arrumadinhos e cheirosos, ah quanta dor fica de fora, aquela dor autêntica que dói a valer!....
Abraço

Mar Arável disse...

BELO E OPORTUNO

TEXTO

tOMEI A LIBERDADE DE A LINCAR.

Anónimo disse...

Teria muitas mais imagens para pôr no meu blog sobre as crianças esfomeadas e maltratadas mas eu própria não sou capaz de as encarar. Cobardia? Talvez. Nem todos têm a coragem desse menino de rua que quer ir discursar no Parlamento. Que magníficos versos para ilustrar este dia da criança! parabéns por os teres publicado.

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

Passei por cá para mais uma visitinha. E com muito agrado encontrei este poema de minha autoria. Pelo que muito agradeço a postagem e comentários. Apenas um reparo: o título do poema é “Discurso no Parlamento”. Muito agradecia a correcção.

Décio Bettencourt Mateus

Meg disse...

Silencio Culpado

Lídia,
Obrigada pelas tuas palavras.
E é verdade, eles falam muito mas está tudo na mesma para não dizer pior.
Um abraço, minha amiga

Meg disse...

Mar Arável,

Obrigada pela visita e pelas palavras. No resto fique à vontade. E retribuo, pode ser?
Um abraço

Meg disse...

Luisa,

É que essas imagens são punhais na nossa consciência, é verdade, por isso não aceitemos que no nosso tempo haja situações destas.

Um abraço

Meg disse...

Caríssimo Décio,

As minhas desculpas pelo lapso... que já corrigi.

Agradeço muito a visita, que espero se repita e o ter-me alertado para o verdadeiro título do poema...

DISCURSO NO PARLAMENTO.

Um abraço

lupuscanissignatus disse...

palavras

que clamam

por justiça



grito

que tarda

a ser

escutado



(poesia que transpira realidade)

Meg disse...

Caro Lupus

Paravras que já não têm razão de ser ditas em pleno séc.XXI.
Um abraço

Fragmentos Betty Martins disse...

querida____________Meg





um poema_______FABULOSO!!!



obrigada pela partilha do conhecimento_________desconhecia Décio Bettencourt









beijO_________C_________carinhO

paginadora disse...

Querida Meg
Estou de volta e em força.
Bonito este poema. Só que estas palavras já não deviam ter razão para existir.
Um beijo grande

Anónimo disse...

Eu tmbém gostava de entrar pelo parlamento adentro e rasgar palavras.

Anónimo disse...

é um murro no estômago.
Dizem que é em Angola, mas poderia ser cá, na América, em qualquer lado.
É um poema universal.

Minha querida os diamantes também ficam lá, mas na mãos de José Eduardo dos Santos e família.

Beijinho

pin gente disse...

um fantástico discurso
necessário
actual
pertinente

ps - desculpa entrar sem tocar, vim do cheiro da ilha

Meg disse...

Amiga A.Paginadora

Ainda bem que voltaste e com essa genica toda.
Porque estava preocupada. Tu sabes.
Sobre as crianças tens toda a razão
Um abraço,

Meg disse...

Querida Betty,

É estimulante saber que o que fazemos dá ´prazer aos amigos.
E tu já fazes parte deles.
E se gostas de poesia, que dizer da pintura de um também poeta?

Um abraço amigo

Meg disse...

Padeirinha,

Era o que apetecia, mas já que o não podemos, e nem temos lá quem nos represente e o faça por nós, que remédio senão esperar...

Um abraço

Meg disse...

Minucha,

é verdade, o mesmo se passa por esse mundo fora. Neste caso são aqueles que me tocam mais de perto, e porque a revolta é maior por causa precisamente dos "diamantes e do petróleo".
E ainda pedem ajuda ao estrangeiro!

Um abraço

Meg disse...

Pin Gente,

Mas para quê bater à porta?
E vinda de onde vem, ainda para mais.
Só espero que goste e volte mais vezes. A porta está aberta para os amigos.

Um abraço.

Vou linká-la, mulher do Norte!

Pata Negra disse...

Ainda pode acontecer o contrário, que se aproveitem da revolta dos pobres para facturar, ou já se esqueceram do caso Tino de Rãs?

Um abraço indeputado

Carminda Pinho disse...

Ai Meg!
Que ainda um dia destes vou lá (ao parlamento) e dou um grito daqueles...