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8 de maio de 2008

OS MEUS PÉS DESCALÇOS
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Os meus pés andantes
Procuram a palanca real, palanca negra
E desencantam as quedas de Kalandula
Quedas da minha terra
Oh é bela Angola
É bela Angola e são felizes os meus pés caminhantes

Os meus pés empoeirados
Acariciam subsolo rico, ouro negro a jorrar no alto mar
Ouro negro a jorrar no offshore
E no onshore
Ouro negro a brotar
Das entranhas do mar, para os meus pés esfomeados!


Os meus pés garimpeiros
Apalpam tesouros e mais tesouros
Minas de diamante, ferro, cobre, prata, ouro…
Debaixo dos meus ásperos
Minas de diamante debaixo dos meus pés maltratados
Debaixo dos meus pés esfomeados

Os meus pés camponeses
Galgam a terra, terra boa de agricultura
Terra boa de verdura
E farta de feijão, mandioca, milho, batata…
Terra boa, terra farta
Debaixo dos meus pés famintos e felizes

Os meus pés pescadores
Banham-se em mares ricos
Mares de garoupas, corvinas, carapau, mariscos…
E mergulham em rios fartos, Kwanza, KubangoKeve, Bengo…
Águas fartas a banharem os meus pés sofredores
Os meus bolsos vazios
Vêem outros bolsos vazios aterrar desnutridos
E depois, bolsos cheios
A levantarem voo, a embarcar abastados
Bolsos cheios a embarcar com sorrisos
A embarcar abarrotados,
oh que paraíso!


Os meus pés descalços
Clamam por migalhas, clamam por pedaços
Os meus bolsos vazios
Não clamam por milhões, não clamam por rios
Os meus bolsos vazios e os meus pés famintos
Clamam somente por migalhas, de alimentos!

[Decio Bettencourt Mateus]

in Os Meus Pés Descalços


"Decio Bettencourt Mateus
Naturalizado e residente em Luanda, nasci em Menongue provincia do Kuando-Kubango, sul de Angola.
Desde muito cedo me habituei a ouvir vozes silenciosas no meu interior.
Desde muito cedo compreendi que tinha de colocar estas vozes no papel!
Décio Bettencourt Mateus**
(poeta angolano; poema retirado da obra “Os Meus Pés Descalços”)


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42 comentários:

Zé Povinho disse...

Não conheço o autor, e até já me envergonho de tanto o repetir, mas é a verdade. Por acaso tenho em preparação um post que de algum modo vai no mesmo sentido do poema, sai amanhã (mais logo para ser mais exacto).
Abraço do Zé

Meg disse...

Ó Zé AMIGO,

Mas o que eu estou a trazer e mostrar aqui são precisamente autores desconhecidos, não divulgados, mas com poesia de que gosto.
Só que cá só existe o Agualusa e o Mia.
Por isso não conheces, e vêm aí muitos.
Um abraço, Zé

Mar Arável disse...

Pés descalços

para tantos voos

Maria disse...

Pois, não conheço, mas li a tua resposta ao Zé e percebi, claro....
Eu tenho livros de outros poetas africanos sem serem o Agualusa e o Mia, mas às tantas comprei-os nos bons tempos, outros vieram mesmo de lá...

Beijinhos, Meg, agora com tudo mais calmo, parece...

Carminda Pinho disse...

Quantos pés decalços e, bolsos vazios vivem naquele país Angola.
Enriquecem os criminosos que gerem as riquezas do país.
Triste Meg, muito triste.
Vão valendo os poetas e as pessoas de coragem que os desmascaram.

Beijos

Anónimo disse...

Não conhecia o autor. A Lusofonia deveria ser mais divulgada. Kiss e Bom Fim de Semana

mjf disse...

Olá!
Obrigaga por poema tão lindo...
Vou repetir o que foi dito em comentários anteriores...não conhecia o autor, mas gostei ;=)

Beijocas

Meg disse...

Mar Arável.
É sempre agradável receber uma primeira visita, que agradeço e prometo retribuir.
E se gostou deste poema, dum poeta apenas conhecido de um pequeno grupo de pessoas, já me sinto feliz.
Espero voltar a vê-lo, Amigo

Meg disse...

Maria, há tantos bons poetas completamente desconhecidos. Por que não mostrar como se faz boa poesia fora dos circuitos comerciais?
Quanto ao resto, não estou tão certa, minha amiga!
Um abraço

Meg disse...

Carminda, também por isso eu os trago aqui, ninguém os conhece, não interessa.
Luanda é a cidade mais cara do mundo, Carminda!!!
Não posso acreditar.
Claro que o Mia e o Agualusa, Pepetela, Craveirinha, Alda Lara, e mais meia dúzia deles já têm o seu lugar na literatura não só africana.
Mas precisamos de mais que ainda agora denunciam o que por lá se passa, com riscos elevados.

Um abraço

Meg disse...

MJF,
E é por isso que me dámais prazer a tua presença aqui... para ver como se faz boa poesia, e como ela é tão pouco conhecida. Se me disserem que gostam com sinceridade, com o tempo eles vão aparecendo. E dando-nos momentos de prazer uns, de reflexão, outros.
Um abraço

lupuscanissignatus disse...

pés

que

falam

a alma

da terra



pés

que

navegam

ondas

de injustiça



Obrigado pela escolha criteriosa.

Bom fim de semana.

samuel disse...

Muito bonito!
O trabalho de divulgação não lhe fica atrás...

Abreijo

Meg disse...

Lupussignatus

Amigo, é exactamente isso o que estes pés dizem.Obrigada
Um abraço.

Meg disse...

Samuel,

É realmente muito bonito. Se tivesse outro nome por baixo... imagina! Onrigada, amigo.
Um abraço

Amaral disse...

Meg
Gostei muito do poema. Uma vez mais os meus parabéns pela divulgação que faz.
Bom fim-de-semana
Abraço

Anónimo disse...

Amiga, porque não publicaste o meu comentário?
Bom Fim de Semana

Anónimo disse...

Amiga, pode ter sido um lapso de Internet no meu servidor. Eu dizia que não conhecia este poeta e que postagens como esta, aproximam a Cultura da Lusofonia. Obrigado pela iniciativa. Kiss e Bom Fim de Semana

Meg disse...

LUDO,
pois deve ter sido isso, ludo. de qualquer maneira sempre que isso acontecer peço-te que me chames a atenção, pois também posso ter um lapso...
obrigada, Ludo e bom fim de semana
um abraço

Agulheta disse...

Meg.
Obrigada pela partilha,pois nos dá a conhecer a poesia lusofoma,este livro pés descalços,deve estar bem relacionado,um país como este e gente a viver tão mal!muito dói.
beijinho bfs Lisa

zef disse...

Olá, Meg. Boa noite.
Devagarinho vou regressando aos sítios amigos.
E, neste, começo a sentir necessidade de conhecer mais poesia de língua nossa. E vou fazê-lo!
Um abraço.

Menina do Rio disse...

Os meus pés descalços, já caminharam sobre pedras e espinhos...

Um belo texto, Meg!

Fica com Deus

Meg disse...

Agulheta,
á hora a que te responndo estou sem palavras, obrigada e bom fim de semana.

Meg disse...

Amaral,

Não estou ainda habituada a este sistema e por vezes falha. Ias ficando para trás. É divulgação mesmo o que tento fazer. amigo!
Um bom fim de semana e um abraço

Meg disse...

Zef,
sabe quanto gosto de saber que lê o pouco que publico apenas pelo prazer de ler boa poesia.
O meu abraço. e bom fim de semana.

MPS disse...

Cara Meg

Tamanha é a dor que já nem se reclama justiça - apenas migalhas. Eis a que ponto chega a maldade destes tiranos: o povo só já pede que o deixem sobreviver, não por direito, mas por instinto elementar. E que bem, o Decio Bettencourt Mateus, soube retratar tamanha indignidade!

Para não desafinar do coro, sempre digo que também eu não conhecia o autor. Obrigada por mo ter apresentado.

Um abraço

Meg disse...

MPS,
Minha amiga, é uma verdade e uma realidade muito triste. Tanta fartura e tanta fome.
E como há gente nova a escrever desta maneira!
Agora vou andar por estes caminhos pois fiquei encantada com algumas descobertas que fiz ultimamente.
Muito obrigada pela sua presença, e um bom fim de semana.

Sei que existes disse...

Boa escolha! Mais uma vez obrigada pela partilha de informação.
Beijo grande

Meg disse...

Sei que existes.

Éum prazer dar a conhecer pessoas que escrevem tão bem e são tão ignoradas.
Um abraço e bom fim de semana

Anónimo disse...

Ainda bem que estás a dar a conhecer autores desconhecidos.

Sabemos tão pouco, ou melhor, sempre soubemos tão pouco sobre Angola

e todos os outros

beijinho, e obrigado

PS: estão editados por cá?

Meg disse...

Marta, eu faço isto com o maior prazer, porque temos gente com muito valor completamente desconhecidos do grande público. Muitos fazem parte de grupos que vão editando com as limitações próprias, mas quando quiseres saber de alguma obra, eu posso tentar obter a informação. Sei que muito se podem comprar na net.
Gostei muito de te ter aqui hoje.
Um abraço e bom fim de semana

Papoila disse...

Querida Meg:
Outro maravilhoso poema de um poeta angolano que não conhecia.
Estes pés descalços cantam África e a sua alma!
Beijos

Meg disse...

Papoila,

E há tantos a fazê-lo tão bem!
Por isso os tenho trazido até aqui.
Obrigada.
Beijos

Anónimo disse...

Olá Meg

tenho amanhã, dia 12, um desafio para ti no claras em castelo e a explicação para este nome que é a minha verdadeira identidade.

Beijo

Meg disse...

Minucha,
Além de te agradecer a visita, quero avisar-te que os desafios e corrente não são o meu forte. Mas como não sei do que se trata... já estou curiosa!
Uma boa noite e um abraço

José Lopes disse...

Uma riqueza imensa calcorreada por pés descalços que muito pouco, ou nada dela têm beneficiado. Outros pés, bem calçados, tudo açambarcam numa voragem que nunca se sacia.
É imoral, criminoso até, mas acontece por lá e também por cá.
Cumps

Maria Faia disse...

Minha querida Amiga Meg,

Iniciar mais uma semana ao som da poesia e do calor Angolano é muito bom. O que não é nada, mesmo nada bom´é o sentimento de tristeza e de revolta que nos assola a alma por sabermos que o bom povo angolano sofre a cada dia as agruras da escassez de bens e da pobreza, enquanto "meia dúzia" de oportunistas vão delapidando as riquezas naturais daquele continente maravilhoso.
São um povo de pé desclaço mas de uma alma inconfundivelmente bela e terna...

Desejo-te uma semana feliz, em que as contrariedades sejam vencidas pela Luz da razão e da Amizade e,
deixo-te um beijo amigo e fraterno.

Maria Faia

SILÊNCIO CULPADO disse...

MEG
OS MEUS PÉS DESCALÇOS, esses pés que eu não conhecia e que tu me mostraste com um sentido único: o da justiça e o da fraternidade. Aquele sentido que te leva a buscar luzes que se escondem dos olhares dos homens mas que têm um brilho muito próprio.
Não pagaram à divulgação mas têm uma MEG para os lembrar.
Bem hajas.

Meg disse...

Caro Guardião,

É verdade, já não é só lá, porque por estes dias , cá já se vai passando a mesma coisa.
Um grande abraço

Meg disse...

Silêncio Culpado,

Lídia este poeta tem poemas lindíssimos. A mim não me importa o nome, só tenho pena que não tenham voz...
Um abraço

Meg disse...

Maria Faia,

Infelizmente tudo o que dizes é verdade.
Vamos continuando, e tentando ultrapassar as contrariedades.
Um abraço

DECIO BETTENCOURT MATEUS disse...

Descobri-vos por um feliz acaso, navegando este infindo universo internético. Primeiro gostei do blog, muito bem apresentado e com matérias interessantíssimas, que resultam num elevadíssimo número de leitores. Depois fiquei admirado e super-satisfeito por ver o meu "Os Meus Pés Descalços" desfilarem em tão concorrido blog. Agradeço a publicação e os comentários.

Décio Bettencourt Mateus