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19 de outubro de 2009

Palavreado político

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Não, não é nenhum autor português!
Eles, os políticos, são todos iguais ou isto é só uma coincidência...??? .
"Quando me falam em limitação de mandatos, costumo responder que os únicos mandatos que gostaria de limitar aos políticos são os mandados para falar. Têm uma linguagem própria que me irrita. E até compreendo que seja necessário que falem assim porque sei como é importante que, enquanto falam, não se dê a infeliz eventualidade de dizerem mesmo algumacoisa De acordo com os próprios políticos, eles não "dizem coisas", "referem-nas"... Quando não "referem", "sugerem": "o senhor presidente sugeriu-me que, tal como referi ontem..."Às vezes em vez de "referirem" ou "sugerirem, "esclarecem" ou "chamam a atenção". "O senhor presidente esclareceu-me eu relação ao seu projecto e chamou a atenção para o facto de não ter ainda delineado a sua posição." Os políticos não "decidem" nada. Em vez disso, "delineiam posições". Ou então "avaliam". Isto já é mais sério: "logo que esteja concluída a investigação, avaliarei os factos e delinearei a minha posição em conformidade. Ainda não tomei uma decisão. Mas quando tal acontecer, é óbvio que o sr. presidente será informado". Não "dizem", "informam. Não "respondem", "esclarecem". Não "lêem", "consultam". Não "formam opinião", "delineiam posições". E não "aconselham", "fazem recomendações". " ... E assim, depois de terem "avaliado" as "posições" uns dos outros, depois de se terem "consultado" e "esclarecido" mútuamente, começam a aproximar-se da possibilidade aterradora de terem de fazer alguma coisa... Mas em vez de "fazer alguma coisa", preferem "delinear estratégias": Estamos a delinear estratégias e pretendemos em breve tomar medidas". Esta é uma actividade muito importante nos círculos políticos:" tomar medidas". Mas já devem ter reparado que, quando "tomam medidas", também é frequente não se ficarem por aí e "fazerem progressos". Fazer progressos é outra actividade importante. "Estamos a fazer progressos relativamente à situação na Segurança Social". "Relativamente" é um palavrão que faz as coisas soarem mais importantes e complicadas. Não estão a "fazer progressos" na Segurança Social, estão a "fazer progressos relativamente" à Segurança Social. Mas, ao menos, estão a fazer "progressos". ... Por vezes, quando não estão a "fazer progressos", estão a "avançar com o processo". "Estamos a avançar com o processo para que possamos implementar as alíneas desta iniciativa". "Implementar" quer dizer "pôr em prática" e "iniciativa" é mais ou menos o mesmo que "proposta". Não é bem uma "medida mas existem possibilidades de se transformar numa "resolução". Pode haver quem pergunte "porque precisamos nós de tantas iniciativas, propostas, medidas e resoluções"? Bom... a resposta deve ser óbvia. Precisamos disto tudo para enfrentarmos os desafios que nos são colocados". Como já devem ter reparado, o país em que vivemos deixou de ter problemas. Em vez disso, enfrenta "desafios". Estamos sempre a enfrentar "desafios". E é por isso que precisamos de gente que consiga "tomar as medidas necessárias". Medidas necessárias como: "Quanto dinheiro é que consigo recolher em troca da minha integridade para ser reeleito e continuar a ter emprego no governo?" George Carlin in, "Quando é Que Jesus Traz as Costeletas"
«««««o»»»»»

George Carlin, 1937-2008
Vencedor de um Grammy Award, Carlin ficou conhecido pelo seus exageros na vida e no palco. Com um humor contundente onde expunha as contradições da sociedade com uma irreverência avassaladora, Carlin é uma das maiores influências para as novas gerações de comediantes de stand-up. São vários os apontamentos de George Carlin relacionados com a critica religiosa e política. Nestes apontamentos - como em todos os outros - o comediante não se limitava a fazer-nos rir: obrigava-nos a pensar.
Esse, talvez fosse o seu grande mérito.
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30 comentários:

Maria disse...

Os políticos não são todos iguais. Acho que é um enorme erro fazer-se esta afirmação. Tem servido para quase tudo, neste país, Meg. Até para termos chegado ao estado a que chegámos. E no entanto sabemos que há alternativas...

Beijo

Mar Arável disse...

Na verdade quando generalizamos

pecamos por miopia.

Entretanto sugiro Caim do nosso

clarividente Saramago

São disse...

Eu li esse livro, também.

E parece que só houve um político na Terra, sabes? Só que o clonaram para todos os países

Fica bem, zogia.

zef disse...

Um pouco assassina, mas caricatura interessante...
Um abraço

Menina do Rio disse...

Político é tudo igual; só falácia!

Meg querida, obrigada pelo carinho e companhia nesses anos.

Um beijinho pra ti

romério rômulo disse...

"quando é que jesus traz as costeletas". ótimo tìtulo.
um beijo, meg.
romério

mundo azul disse...

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Penso que os políticos, se tornam iguais...A princípio, seriam diferentes.
Uma triste constatação, mas, verdadeira!

Gostei do texto!

Beijos de luz e o meu carinho...

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Vanda Mª Madail Rafeiro disse...

O facto de estarmos tão saturados já com más políticas leva-nos muitas vezes à generalização... e a culpa é ou não é nossa?... pensemos...

duarte disse...

pois o palavreado...
por isso que, lutar por, é sempre mais do que palavreado.
Gostei de ler, há muitas reflexões a fazer.
abraço do vale.

Meg disse...

Maria,

O palavreado, minha amiga!
Quanto aos políticos, olha que quase se contam pelos dedos das mãos os que fogem à regra!
E claro que há alternativas.

Já sabes a última que corre dobre o Miguel Portas? Mais um que é como o Frei Tomás...

Um abraço

Meg disse...

Mar Arável,

Claro!
Mas agora já estou a começar a pensar, depois da reacção dele à "reacção" da Igreja, se não terá sido uma boa campanha publicitária.
Isto sou eu a pensar... que sou quase analfabeta.

Um abraço

Meg disse...

São,

Ora é isso mesmo, minha amiga.
Clones universais, parece.
O que não quer dizer que não há boas pessoas... só que não estão na política, incapazes que são de
decorar a "cartilha".

Um beijo

Meg disse...

Verónica,

E como tu o sabes tão bem! Também aí estamos empatados. Ninguém se pode rir de ninguém.

Já recebeste o que te mandei?
Seria uma honra para mim.

Beijo

Meg disse...

Zef,

Uma sátira assassina... forte mas também está bem visto.
Mesmo que o riso seja amarelo, temos de continuar a rir, meu caro Zef.
Gostei de te "ver"...

Um beijo

Meg disse...

Romério,

Eu também sou um tanto subversiva, daí a minha atracção por títulos como este...

Beijo para ti

Meg disse...

Mundo Azul

Que bom ver-te por cá... vou guardar o teu link.

Os políticos hoje são iguais em todo o lado, tu sabes como é aí no Brasil também!
Mas sobreviveremos.

Um beijo

Meg disse...

Vanda,

Pode ser verdade, mas que nos faz pensar em quem é que votamos, isso faz!

Um beijo

Meg disse...

Duarte,

Sejas bem aparecido, meu amigo!

Fazes cá falta. Agora chegou a minha vez de reclamar.

Dá que pensar, é verdade.

Um abraço

Carminda Pinho disse...

Passo só para te deixar um beijo. Depois eu volto.:)

José Lopes disse...

Coincidências na política? Os políticos são o que produzem, e é fácil fazer o balanço da sua obra...
Cumps

nydia bonetti disse...

Excelente, Meg. Este é daqueles textos que depois da leitura não sabemos se rimos ou choramos, mas sem dúvida, nos faz refletir.

Beijos

Meg disse...

Carminda,

A porta está sempre aberta, minha amiga...
Cá te espero, então.

Beijo

Meg disse...

Guardião,

Pois, bem me parecia que não eram coincidências... isto é quase uma cartilha, que nós conhecemos muito bem.
Este texto bem podia ter sido escrito por um português... dá que pensar.

Um abraço

Meg disse...

Nydia,

É uma "sátira assassina", como lhe chamou aqui um amigo.
E o melhor é rirmos, embora o riso saia muito para o amarelo, minha amiga.

Um beijo

Janaina Amado disse...

Meg querida, não há nada melhor nem mais forte do que o humor para nos fazer pensar, não é mesmo? O bom humor desvendar o mundo, deixa-o a nu.
PS - Escrevi lá no meu blog: o "meu" Rio de Janeiro também não existe mais, como tua Angola.

Meg disse...

Janaína,

Pelas tristes notícias que nos chegam do Rio de Janeiro, acho que talvez tenhas razão...
O que fizeram à Cidade Maravilhosa!
Já o Gilberto Gil não pode dizer que o Rio de Janeiro continua lindo!
É muito triste o que se está a passar, minha querida... essas imagens doem a valer.

Beijo

Sonia Schmorantz disse...

De pleno acordo, parece que nasceram todos da mesma fôrma!
beijos

Peter disse...

Texto escolhido a propósito.

"Quando me falam em limitação de mandatos, costumo responder que os únicos mandatos que gostaria de limitar aos políticos são os mandados para falar. Têm uma linguagem própria que me irrita."

Também a mim, pincipalmente os do BE que andam por aí a enganar os "lorpas".

Bom fds

Meg disse...

Sonia,

É incrível como parece haver uma linguagem própria, utilizada pelos políticos, sejam eles de onde forem.
São todos feitos da mesma massa,

Bom fim de semana,

Um beijo

Meg disse...

Peter,

Alguns desses até deviam ser proibidos de abrir a boca, mas como é proibido proibir, só nos resta desligar a TV, ou onde quer que eles estejam a "debitar".

Bom fim de semana

Um abraço