Maria Azenha... "sonhando"
(posso dizer que depois de a ler
não posso abrir “ o quarteto
a solo” incomoda como andar
ao Sol num dia de verão
sem ter um banco de jardim
onde pousar as letras)
hoje em dia um poeta
vale menos do que um cão
isto de deixar fugir os versos
pela internet dentro
causa-me uma grande aflição
e se amanhã eles não estiverem lá
que posso eu fazer
é muito perigoso escrever livros
hoje em dia hoje
vêm os vírus e apagam tudo
afectam as paredes do pc
não fica mesmo nada
é como se fosse tudo cego
o écran esconde as letras todas
ai senhor doutor ai senhor
doutor tenho uma dor de versos
tenho muito medo
preciso que me valha
sofro com isto tudo
é como se o meu sangue
fugisse todo pelo écran dentro
acordar de manhã ir ao sítio certo
e não ver lá nada
isto de ser poeta é uma grande aflição
ai senhor doutor ai senhor
doutor se calhar o melhor é ficar quieta
não escrever nada ficar muito quieta
ficar tudo na cabeça
não usar shampoo
porque os versos podem apagar-se
fugir todos como no écran
ai senhor doutor o remédio é ficar quieta
escrever coisas sem importância
pode alguém espreitar e apagar tudo
que é pior do que roubar alguém
pois não fica nada
e amanhã senhor doutor os poetas
escreverão poemas
só com uma simples troca de olhares
e os versos voltarão a ver-se
ai senhor doutor ai senhor doutor
isto de ser poeta
é uma grande aflição
Maria Azenha
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28 comentários:
É uma enorme aflição, está certíssima a Maria Azenha.
Não tenho nada dela, terei de procurar um dia destes...
Beijinho, Meg
Está poesia à solta
a que dói e se solta
também.
Podes usar a citação, claro, Meggy. Aconselho a ir ver o perfil da autora que agora descobri por um livro emprestado por uma amiga. E tentar ler o livro, não é um manual de filosofia mas é uma vida que nos toca...
Bj
Excelente!
Bjs
Que bom que voltaste!
Espero que estejas bem.
Gostei muito deste poema. Conheço mal a poetisa. Obrigada pela divulgação.
Bjs
salve, meg!
um beijo.
romério
é aflitivo sim!
brava se consegue guardar tudo na cabeça...
não vinha aqui faz tempo
um abraço
luísa
Maria,
Saiu há pouco outro livro... não deixes de ler.
Beijo de cá
Bettips,
Se tu dizes... como não acreditar?
Já está onde eu queria.
Se a filosofia nem sempre, ou quase nunca é, sobre a vida. Por isso, muitas vezes passa ao lado.
Beijinho, minha amiga!
ps:já andei a bisbilhotar...
JPD,
Muito obrigada.
Beijo
Romério,
Que bom ver-te por cá, meu Poeta!
Um beijo
Ana,
Voltei, que as saudades eram muitas.
Quanto à Maria Azenha, é realmente uma das minhas preferidas vozes neste momento. Não deixes de conhecer... a poetisa e a pintora.
Beijo
Pin gente
É verdade, Luisa, por vezes, perdemo-nos e voltamos a encontrar-nos, tanto tempo depois.
Mas os amigos são assim... agora não te vou perder de novo, fico com o link aqui ao lado.
Beijo
Mas eu adorei o poema!
Obrigada a ti por no-lo ter oferecido e parabéns à autora por o ter escrito!
Um grandissimo beijo.
Meg
Fiquei feliz por saber que voltaste.
Estava sentindo a tua falta...
Gosto do pouco que conheço de Maria Azenha. Tenho algumas coisas dela gravadas, mas preciso aprofundar.
Beijinhos
É bem feita! Quem manda aos poetas escreverem os seus versos, seja no papel ou nos computadores?!
Os poetas puros, sentem, declamam, cantam mas nunca escrevem os seus versos porque a verdadeira poesia é instantânea, não como um pudim mas como um momento.
Um abraço num momento assim
Pois, querida Meg... porque um poeta é alguém que gravido das palavras que lhe crescem na alma, um dia, as faz nascer, e pela vida fora não gostará nunca de as ver perdidas, antes multiplicadas no único ventre possível, outra alma...
Um beijinho grato, sempre grato, por estas e outras palavras!
Passei por aqui e tomei conhecimento de teres tido problemas de saúde que tb me têm afligido.
Espero que estejas recuperada. Podias ter dito qq coisa na Farm.
Sabes, como não sou escritor e mt menos poeta, vou-me entretendo por lá.
Prometo aparecer.
E regressas com o habitual bom gosto e estilo... Obrigado!!
Kandandu
Um dia só por gestos
se tivermos bracinhos
Bjs
Querida Meg
É assim mesmo. De volta e cheia de força.
Também gostei muito do poema. Adoro este género de poema solto a jorrar em catadupa. Uma vertigem tal como a vida.
Bem-vinda a quem te quer bem.
Beijinhos.
Isabel
São,
É difícil não gostar de Maria Azenha... Por isso a trago aqui com alguma frequência.
São fases...
Beijinho para ti, São!
Mariazita,
Voltei para os amigos de quem gosto muito, e que tanto me têm acarinhado. E tu fazes parte desse núcleo querido.
Relê a Maria Azenha... vale a pena.
Beijinho
Pata Negra,
Pois é... a verdadeira poesia é espontânea, como bem dizes. Mas nós - eles - têm a mania de a escreverem nos computadores e o que é que pode acontecer? Vem um cavalo de Tróia e come-a toda!!!!
E lá se foi a poesia.
Gostei, adorei, como sempre, a tua visita à "madrinha"...
Um beijo
Maria João,
Se eu soubesse escrever como tu, também só escrevia mesmo nos cadernos, à mão, de preferência com uma caneta de tinta permanente - mania minha, quase fetiche.
Mas eu não sou poeta nem lá ando por perto, mas entendo perfeitamente a "aflição" da Maria Azenha.
Beijinhos para ti
Peter,
Sê bem aparecido, Peter!
Tu bem me convidas mas não tenho a menor "queda" para a Farm...
Ainda não consegui percebert nada daquilo... desisti.
Mas vou passando para te ver.
Um abraço
CAro Nami,
Obrigada pela tua visita e pelas tuas palavras sempre carinhosas.
Estou a tentar...
Kandandu para ti
Mar Arável,
Chegaremos a isso? Talvez não.
Um beijo
Isabel,
São pessoas como tu que me prendem a "isto" há já 3 anos, mesmo com alguns percalços pelo meio. Tu, que me acompanhas desde sempre, sabes bem...
Tentarei corresponder às expectativas de todos dentro das minhas inúmeras limitações, Isabel.
Sempre com muito carinho por todos vós.
Um beijo para ti, minha amiga.
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