Entre a coisa pública
e a privada
achou-se a República
assentada.
Uns queriam privar
da coisa pública
outros queriam provar
da privada,
conquanto, é claro,
que, na provação,
a privada, publicamente
parecesse perfumada.
Dessa luta intestina
Assim ia a rês pública: avacalhada
Qual o jeito?
O que fazer?
— Sim, é preciso sanear,
Enfim, acabar com a alquimia
entre a gula pública e a privada
a República
acabou desarranjada
e já ninguém sabia
quando era a empresa pública
privada pública
ou
pública privada.
Assim ia a rês pública: avacalhada
uma rês pública: charqueada
uma rês pública, publicamente
corneada, que por mais
que lhe batessem na cangalha
mais vivia escangalhada.
Submetê-la a um jejum?
Ou dar purgante à esganada
que embora a prisão de ventre
tinha a pança inflacionada?
Privatizar a privada
onde estão todos
publicamente assentados?
Ou publicar, de uma penada,
que a coisa pública
se deixar de ser privada
pode ser recuperada?
desinfetar a coisa pública,
limpar a verba malversada,
dar descarga na privada.
de empresas públicas-privadas
que querem ver suas fezes
em ouro alheio transformadas.
.
Affonso Romano de Sant'Anna
.
Affonso Romano de Sant'Anna
.
.
16 comentários:
rrss rrss
muito bom, o poema!
Obrigada por me dares a conhecer alguém que escreve assim.
Beijinhos, linda.
Querida Meg
Adorei a fotografia do Jorge de Sena com o cravo.
Este poema arranha. Era essa a ideia não era?
Beijinhos.
Isabel
Isso.
Com dor...
É o que eu venho dizendo, ainda que duma forma menos interessante e nada poética. Não conhecia, mas gostei muito de ler.
Cumps
São,
A brincar ou não, a verdade está aí. Sorrimos mas pensamos também.
Beijos para ti
Isabel,
Arranha e, se pnsarmos bem, até faz sangrar. Mas é preciso, para ver se acordamos.
Um beijo, Isabel
Bardo,
Com dor e muitas lágrimas.
Beijo
Guardião,
É verdade, meu amigo. Há quanto tempo!
Mas parece que "isto" não vai lá, nem com poemas.
Um abraço
Boa, Meg!
:)))
Impressionante/verdadeira ironia.
Quanta verdade também!
Beijinhos
Belíssimo.
Bjs
Público já só é um nome de jornal! Diz-se que até o governo já é propriedade da Mota-Engil e que outros tubarões tem escrituras de ministérios!
Um público abraço
Mdsol,
É, não é?
Parece que foi escrito a pensar em nós!
Beijo
Ana,
Este é um poeta que gosto de ler nos dias de hoje.
Porque o mal parece ser universal.
Beijinho para ti, Ana
JPD,
Obrigada, amigo.
Um abraço
Pata Negra,
Sabes que não me admirava nada!!!
Mota-Engil e ... as outras.
Mas vais ver que daqui a nada vamos fazer como a Espanha... fora com ministérios, administradores e gestores de empresas públicas... que mais? Só falta tirarem-nos o sub.natal e de férias como na Grécia.
Prémios? Nem pensar em tirá-los, que quem fez este "serviço" ainda há-de ter uma estátua.
Pronto!
Um abraço conformado.
Enviar um comentário