Com o poeta e dramaturgo brasileiro Ferreira Gullar,
o mais recente Prémio Camões.
Coisas da terra
Todas as coisas de que falo estão na cidade
entre o céu e a terra.
São todas elas coisas perecíveis
e eternas como o teu riso
a palavra solidária
minha mão aberta
ou este esquecido cheiro de cabelo
que volta
e acende sua flama inesperada
no coração de maio.
Todas as coisas de que falo são de carne
como o verão e o salário.
Mortalmente inseridas no tempo,
estão dispersas como o ar
no mercado, nas oficinas,
nas ruas, nos hotéis de viagem.
São coisas, todas elas,
cotidianas, como bocas
e mãos, sonhos, greves,
denúncias,
acidentes de trabalho e do amor. Coisas,
de que falam os jornais
às vezes tão rudes
às vezes tão escuras
que mesmo a poesia as ilumina com dificuldade.
Mas é nelas que te vejo pulsando,
mundo novo,
ainda em estado de soluços e esperança.
[Ferreira Gullar]
19 comentários:
Hoje consegui dar uma pequena volta pelos blogs que visitava quase diariamente. Muitos deles estão parados, outros calados desde Abril. Finalmente encontro o teu, actualizado hoje mesmo com um lindíssimo poema que não conhecia.
poesia nunca é demais e seu blog é recheado delas de fernando pessoa que amo e a foto dum mar infinito.
``mesmo a poesia as ilumina com dificuldade´´... foi a frase que masi me marcou
Uma presença agradável e mais do justa, a de Ferreira Gullar, o prémio Camões 2010.
Um autor que não conhecia até há poucos dias, quando ganhou o prémio.
Gostei. Um regresso em boa forma.
Cumps
Um merecido prémio Camões
Ah, Gullar, Gullar... Me enche os olhos e o coração.
Passeando por aqui, conhecendo teu canto e adorando.
Beijoca
Um extraordinário poema que sem ser um grito é uma voz serenada pelas mais belas verdades.
... e o teu regresso, aos poucos...
que bom que é ver-te por aqui!
Um beijinho enorme
Acertámos nas postagens...
Que bom que voltaste!
espero que estejas bem.
Beijinhos
Salve o poeta! Boa semana, Meg! Grande beijo.
Tem tanto de divino, como tem de terra, de entranha, de soluços, tão tão realista e tão poético! Adoro Gullar!
Beijo para ti
Mas é nelas que te regressando, recalcitrando e regressando aos poucos
Meg
Que beleza de poema, que beleza de poeta!
Um abraço
Querida Meg
Voltando aos poucos e voltando muito bem.
Já é um bom sinal.
Beijinhos
Isabel
Uma passagem para deixar os meus cumprimentos.
José Lopes
Não conheço a obra.
Tive conhecimento da atribuição do galardão.
Gostei do poema.
Bjs
Graças por me dares a conhecer um bonito poema.
Bem hajas!
ja sigo. abraços.
Tu que me ensinas
e me retens na memória como eu a ti,
a ti eu digo:
Morreu um HOMEM - como Vasco Gonçalves, como Álvaro Cunhal
como muitos
não como todos.
Gente que não encaixa em perfis.
Choro a integridade:
e o contentamento de tantos
mexe-me
com o desgosto de muitos.
Bjs
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