Esta noite morri muitas vezes, à espera
de um sonho que viesse de repente
e às escuras dançasse com a minha alma
enquanto fosses tu a conduzir
o seu ritmo assombrado nas terras do corpo,
toda a espiral das horas que se erguessem
no poço dos sentidos. Quem és tu,
promessa imaginária que me ensina
a decifrar as intenções do vento
a música da chuva nas janelas
sob o frio de Fevereiro? O amor
ofereceu-me o teu rosto absoluto,
projectou os teus olhos no meu céu
e segreda-me agora uma palavra:
o teu nome - essa última fala da última
estrela quase a morrer
pouco a pouco embebida no meu próprio sangue
e o meu sangue à procura do teu coração
Fernando Pinto do Amaral
Às Cegas, 1997
Às Cegas, 1997
Fernando Pinto do Amaral, poeta e crítico literário, nasceu em Lisboa a 12 de Maio de 1960.
Frequentou a Faculdade de Medicina, da Universidade de Lisboa, desistindo a meio do curso para optar mais tarde pelas Letras.
É, desde 1987, professor da Faculdade de Letras na Universidade de Lisboa. Colaborou em revistas como Ler, A Phala, Colóquio/Letras e o jornal Público.
Pela tradução de As Flores do Mal, de Baudelaire, foi-lhe atribuído o Prémio Pen Club e o Prémio da Associação Portuguesa de Tradutores e Poemas Saturnianos de Verlaine. A ele se deve também a tradução de toda a obra do argentino Jorge Luis Borges.
Entre outras obras, publicou Acédia (1990, Poesia), A Escada de Jacob (1993, Poesia), Às Cegas (1997, Poesia), Mosaico Fluido — Modernidade e Pós-Modernidade na Poesia Portuguesa Mais Recente (1991, Prémio de Ensaio Pen Club), Na Órbita de Saturno (1992, Ensaio) e Obra Poética (2000).
Editou ainda o livro de poemas Pena Suspensa (2004) e o conjunto de contos Área de Serviço e Outras Histórias de Amor (2006).
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17 comentários:
Belíssimo, Fernando!
Morrer à espera de um sonho, é quase uma prece.
Parabéns, poeta!
Abraços
Mirse
Sem amor e sonho, estamos mortos.
Já conhece a revista Inútil? Saiu o Nº 2, dê uma vista de olhos. Esta segunda é sobre o Tempo. A terceira será sobre a pele.
Excelente, o Pinto Amaral!
Foi bom ter conhecido este belo poema e to agradeço.
Uma seman bem feliz, linda.
Querida Meg
Grande lirismo. Gosto muito quando um poema de amor se torna uma obra de arte. E saber escolhe-los, como o fizeste.
Beijinhos
Isabel
Já conhecia o autor, mais oelas traduções.
Boa escolha.
Cumps
Tudo bem, amiga?
Abraço.
Conheço muito mal a poesia do FPA.
Mas gostei deste poema.
Há uma antologia em curso neste blogue que muito prezo.
Li o Verão passado um romance dele.
Bjs
Mirse,
Bem vinda, amiga!
Uma prece, sim! De um grande poeta.
Beijos
Padeirinha,
Enquanto sonharmos...
Já consultei a Inútil, (tenho-a no Facebook) mas gostava de saber onde a posso comprar cá no Algarve... ou se posso assinar.
Um abraço
Vasco,
Sou da mesma opinião.
Obrigada pela tua presença aqui, meu amigo.
Um abraço
São,
Não é muito divulgado nos blogs. Aqui terá sempre um lugar especial.
Beijos, amiga
Bipede Implume
Com poetas como FPA a escolha é fácil, Isabel.
Gosto de tudo o que escreve...
Beijinho
Guardião,
Acredito, não anda muito por aqui o poeta.
Um abraço
São,
Só muito trabalho, minha amiga.
O meu carinho pelo teu cuidado.
Beijinhos para ti, São
Caro JPD,
Muito obrigada, mais uma vez, pelas tuas palavras, apesar da minha falta de assiduidade por aqui - o trabalho é muito e o tempo é escasso.
Um grande abraço
Seja bem vinda Meg e fique sempre muito a vontade!
Bjs.
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