Slave Ship (Slavers Throwing Overboard the Dead and Dying, Typhoon Coming On)1840 - William Turner, 1775–1851
Carta aos Mortos
Amigos, nada mudou em essência.
Os salários mal dão para os gastos,
As guerras não terminaram
E há vírus novos e terríveis,
Embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
Tomba morto por questões de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
E como sempre, mulheres portentosas
Nos seduzem com suas bocas e pernas,
Mas em matéria de amor
Não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
Seis meses ou mais, testando a engrenagem
E a solidão.
Em olimpíada há recordes previstos
E nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
Com a modernidade.
Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
Relemos o Quixote, e a primavera
Chega pontualmente cada ano.
Alguns hábitos, rios e florestas
Se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
Ou toma a fresca da tarde,
Mas temos máquinas velocíssimas
Que nos dispensam de pensar.
Sobre o desaparecimento dos dinossauros
E a formação das galáxias
Não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
Países se dividem
E as formigas e abelhas continuam
Fiéis ao seu trabalho.
Nada mudou em essência.
Cantamos parabéns nas festas,
Discutimos futebol na esquina
Morremos em estúpidos desastres
E volta e meia
Um de nós olha o céu quando estrelado
Com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração, insolente,
Continua a achar
Que vive no ápice da história.
Affonso Romano de Sant'Anna
24 comentários:
Olá,
Um poema que é um espanto, de um poeta que não conhecia.
Obrigado
Abraço
...e oito milhões de crianças são assassinadas por quem nada faz para deter as causas evitáveis que determinam a sua morte.
Um abraço, linda, e graças pelas gentis palavras lá no blogue.
Grato pela partilha
O evolucionismo fez tudo ficar no mesmo lugar, é verdade. Nada mudou, repetimos o passado, apenas com outra roupagem.
Caro jrd,
Este é só um dos grandes poemas de Affonso Romano de Sant'Anna, um autor que vale a pema conhecer.
Um abraço
Impressionante como andamos em ciclos, não é?
Excelente post.
Beijo
Os vivos reconhecem que sobreviver não é viver. Por aqui há quase sempre algo de novo, pelo menos para mim.
Abraço do Zé
Querida Meg
Antes de mais: Bem-vinda.
O novo visual do blog está soberbo.
Este poema retrata bem a monotonia do tempo que passa, e ...contudo, algo sempre vai mudando. Às vezes para pior.
Beijinhos de muita amizade.
Isabel
Contraste entre a vida e a aparência da morte figindo-se viva. Assim vamos vivendo.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 23/09/2010
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... é assim! Desde que o mundo é mundo... As tristeza usam um novo manto, as alegrias uma nova máscara, mas na essência, são as mesmas que acompanham o homem desde o princípio.
Enquanto visitantes desse mundo, assistiremos sempre o mesmo espetáculo,adaptado para o seu próprio tempo e encenado por novos
atores...
Gostei demais!
Beijos de luz e o meu carinho...
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São,
Mundo cão, minha amiga, este em que tantas barbaridades se fazem impunemente.
Beijinho, São!
Mar Arável
Bem hajas, amigo!
Beijo
Danclads,
Bem vindo a este espaço onde será sempre bem recebido, apesar de não deixar pistas...
Quanto ao poema, afinal o tempo não muda nada... nem os homens, meu caro!
Cumps
Obrigada,Ana!
Infelizmente parece que não passamos da "cepa torta"!
Beijinho para ti
Zé Povinho.
Sobreviver está a ser tarefa impossível para muitos de nós.
Constata-se a cada dia que passa.
Aqui pouco se faz... tenta-se.
Um abraço
Isabel,
Dizes bem... muda-se para pior, muitas das vezes.
Obrigada pelo elogio carinhoso.
A proximidade do Outono deu-me para fazer obras...rsrsrs.
Beijinho para ti
Jorge,
É pena que assim seja, meu caro amigo!
Um abraço
Zélia,
Que bom, receber a tua visita!
E talvez tenhas razão quando dizes...
...As tristeza usam um novo manto, as alegrias uma nova máscara, mas na essência, são as mesmas que acompanham o homem desde o princípio.
Mas não devia ser assim, Zélia!
Um beijo de luz.
O amor nasce de um beijo, cresce de um sorriso, alimenta-se de um carinho e ressuscita de um perdão."
Uma boa semana
Bjs com carinho
Leitura boa!!!...
Abreijo.
Turner é uma escolha com muita classe.
A modernidade e o egoísmo não são a mesma coisa, mas parece que os modernaços elegeram o egoísmo como virtude destes tempos.
Cumps
Naty e Carlos,
Bem hajam!
Uma boa semana para vós.
Muito boa, Samuel!
Bom fim de semana!
Abreijos
Guardião,
Turner é Turner... para quem sabe!
Quanto aos modernaços, são uns "espertalhaços", não duvides.
Um abraço
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