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Venenos de Deus, Remédios do Diabo
é o mais recente romance de
Mia Couto,
escritor moçambicano nascido em 1955
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"[...] A vida que levo é um suposto mal entendido como, aliás, eu próprio. Existo com esta ironia que não é, esta tortura que não morre.Quero fugir disto. Quero dormir.Quero dormir e que não me belisquem pois é a dormir que não sonho comigo. Não posso pedir mais nada. Estou triste.[...]"
Requerimento de um cidadão desiludido consigo mesmo
Ilustríssima Senhora Vida
Distinta, Quero um poço fundo para morrer. Um poço fundíssimo onde morto eu não me possa rever. Um poço escuro, Ilustríssima senhora, um poço que arda entre o silêncio e a escuridão, um poço que doa só de nos vermos na sua vertigem, um poço que abra as vísceras terrenas da solidão.Quero um poço fundo, um fundo poço para morrer e não outro poço que seja este em que me estou a perder. Longo, obtuso, fantasmagórico, com chamas que queimem, que subam aos olhos de quem me queira reaver.Um poço por favor, é tudo o que estou a pedir-lhe, é tudo o que eu pretendo ter, um poço onde morra intranquilo como me condenou a viver. Porra que quero um poço, é tão difícil um poço onde a morte me possa merecer? Então dê-me, com urgência, com a veemência concreta de um ódio qualquer, mas que seja puro e mau e perverso e tenha lanças que me trespassem a barriga e me partam em absoluto a minha espinha dorsal.Eu quero um fundo, um poço fundíssimo, um poço escuro para que possa morrer tão perfeito e completamente como nunca assim pude viver. Porra, um poço. E isso custa dar-me sem pedir-lhe deferimento? Custa tanto autorizar o que a faz rir?Senhora minha e Ilustríssima, um poço bem mais fundo que o seu, bem mais escuro, bem mais vertiginoso, bem mais lamacento que o corpo com que a ele me vou atirar. Um poço, Digníssima, onde morto eu não a oiça nem falar nem tão pouco doer-se de respirar.Um poço que seja talqualmente este fosso de onde lhe requeiro isto e onde a vida, depois que demitida, seja em si um sólido quisto. Atenciosamente Um baixíssimo cidadão Eduardo White
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"A poesia é a mais difícil das artes da palavra.Difícil de escrever, difícil de ler e difícil de aprender.Existem poetas tão complexos que só toleram ser compreendidos depois de várias leituras [...] Pois bem. Eis que agora, depois de palmilhar longamente as estradas da poesia, experimentando caminhos, atalhos, veredas e trilhas, em livros que indicavam o rumo mas não desvelavam segredos, Romério Rômulo desencanta de vez com Matéria Bruta,um livro que tem a grandeza e a maturidade dos poetas maiores".[Sebastião Nunes]
.Sei que este texto é talvez um pouco extenso demais, mas confio na vossa capacidade de se emocionarem, para o lerem ...Desde já, o meu agradecimento antecipado para a vossa paciência e colaboração
Neste fim de férias, e atendendo ao sacrifício que representa o retomar das actividades de cada um, hoje deixo-vos um post mais leve,com uma nota de humor, que espero seja do vosso agrado.Deixo-vos com um soneto do Bocage...