. . Se soubessem as voltas que este poema deu até chegar aqui...! Depois eu conto... . .
http://aspalavrassaoarmas.blogspot.com/
.
Numa perfeita foto do jornal senhor ministro do impossível
vi enlevado e eufórico e perdido de riso o seu rosto simples
serei curioso senhor ministro de que se ri? de que se ri?
da sua janela vê-se a praia mas ignoram-se os bairros de lata
têm seus filhos olhos de mando mas outros têm o olhar triste
aqui na rua acontecem coisas que nem sequer se podem dizer
os estudantes e os trabalhadores põem os pontos nos ís
por isso digo senhor ministro de que se ri? de que se ri?
O senhor conhece melhor que ninguém a lei amarga de estes países
os senhores são duros com a nossa gente por quê com os outros são todo servis
porque alienam o património enquanto o gringo nos cobra o triplo
porque atraiçoam os senhores e os outros os bajuladores e os senis
por isso digo senhor ministro de que se ri? de que se ri?
aqui na rua os seus guardas matam e aqueles que morrem são gente humilde
e os que ficam chorando de raiva por certo pensam na desforra
algures na prisão os seus homens fazem sofrer o homem e isso não serve
além do mais o senhor é o mastro principal de um barco que vai a pique
serei curioso senhor ministro de que se ri? de que se ri?
.
«««o»»»
Mário Benedetti
De qué se ríe? (seré curioso?)
En una exacta foto del diario señor ministro del imposible
vi en pleno gozo y en plena euforia y en plena risa su rostro simple
seré curioso señor ministro de qué se ríe de qué se ríe
de su ventana se ve la playa pero se ignoran los cantegriles
tienen sus hijos ojos de mando pero otros tienen mirada triste
aquí en la calle suceden cosas que ni siquiera pueden decirse
los estudiantes y los obreros ponen los puntos sobre las íes
por eso digo señor ministro de qué se ríe de qué se ríe
usté conoce mejor que nadie la ley amarga de estos países
ustedes duros con nuestra gente por qué con otros son tan serviles
cómo traicionan el patrimonio mientras el gringo nos cobra el triple
cómo traicionan usté y los otros los adulones y los seniles
por eso digo señor ministro de qué se ríe de qué se ríe
. aquí en la calle
sus guardas matan y los que mueren son gente humilde
y los que quedan llorando rabia seguro piensan en el desquite
allá en la celda
sus hombres hacen sufrir al hombre y eso no sirve
después de todo
usté es el palo mayor de un barco que se va a pique
seré curioso señor ministro de qué se ríe de qué se ríe.
. .
Agradeço a tradução ao Cid Simões, do blog
AS PALAVRAS SÃO ARMAS
«««««o»»»»»
Mário Benedetti, 1920-2009
Escritor uruguaio (Paso de los Toros, Tacuarembó, 14.9.1920 – Montevidéu, 17.5.2009).
A sua obra, reconhecida internacionalmente sobretudo a partir do romance La tregua (1960), depois passado ao cinema por Sergio Renán, reparte-se pela poesia, o conto, o teatro, o romance e o ensaio. Director do Departamento de Literatura Hispano-americana da Faculdade de Humanidades e Ciências da Universidade da República, as vicissitudes da política no seu país forçam-no ao exílio, a partir de 1973, na Argentina, Perú, Cuba e Espanha, regressando ao Uruguai em 1983, onde integrou a redacção de uma nova revista literária, Brecha, iniciando o que ele próprio designou como «desexílio».
Em 1987, recebeu, em Bruxelas, o prémio da Amnistia Internacional pelo romance Primavera con una esquina rota (1982), e, em 1989, foi distinguido com a Medalla Haydeé Santamaría, concedida pelo Estado cubano, onde criara e dirigira (1968-1971) o Centro de Pesquisas Literárias da Casa de las Américas. Em 1999, foi-lhe concedido o Prémio Rainha Sofia de Poesia Iberoamericana e, em 2000, o Prémio Iberoamericano José Martí. A Universidade Internacional Menéndez Pelayo distinguiu-o, em 2005, com o Prémio Internacional Menéndez Pelayo.
Benedetti escreveu mais de 80 livros de poesia, romances, contos e ensaios, assim como roteiros para cinema. A sua obra foi traduzida para mais de 20 idiomas e é considerado um autor de primeiro plano da literatura latino-americana contemporânea.
.
.
Poema de Mário Benedetti De que se ri? (serei curioso?)