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22 de setembro de 2010

Amigos, nada mudou em essência... PORQUÊ?


Slave Ship (Slavers Throwing Overboard the Dead and Dying, Typhoon Coming On)1840 - William Turner, 1775–1851

Carta aos Mortos



Amigos, nada mudou em essência.
Os salários mal dão para os gastos,
As guerras não terminaram
E há vírus novos e terríveis,
Embora o avanço da medicina.
Volta e meia um vizinho
Tomba morto por questões de amor.
Há filmes interessantes, é verdade,
E como sempre, mulheres portentosas
Nos seduzem com suas bocas e pernas,
Mas em matéria de amor
Não inventamos nenhuma posição nova.
Alguns cosmonautas ficam no espaço
Seis meses ou mais, testando a engrenagem
E a solidão.
Em olimpíada há recordes previstos
E nos países, avanços e recuos sociais.
Mas nenhum pássaro mudou seu canto
Com a modernidade.

Reencenamos as mesmas tragédias gregas,
Relemos o Quixote, e a primavera
Chega pontualmente cada ano.

Alguns hábitos, rios e florestas
Se perderam.
Ninguém mais coloca cadeiras na calçada
Ou toma a fresca da tarde,
Mas temos máquinas velocíssimas
Que nos dispensam de pensar.

Sobre o desaparecimento dos dinossauros
E a formação das galáxias
Não avançamos nada.
Roupas vão e voltam com as modas.
Governos fortes caem, outros se levantam,
Países se dividem
E as formigas e abelhas continuam
Fiéis ao seu trabalho.

Nada mudou em essência.

Cantamos parabéns nas festas,
Discutimos futebol na esquina
Morremos em estúpidos desastres
E volta e meia
Um de nós olha o céu quando estrelado
Com o mesmo pasmo das cavernas.
E cada geração, insolente,
Continua a achar
Que vive no ápice da história.

Affonso Romano de Sant'Anna

24 comentários:

jrd disse...

Olá,
Um poema que é um espanto, de um poeta que não conhecia.
Obrigado
Abraço

São disse...

...e oito milhões de crianças são assassinadas por quem nada faz para deter as causas evitáveis que determinam a sua morte.

Um abraço, linda, e graças pelas gentis palavras lá no blogue.

Mar Arável disse...

Grato pela partilha

Danclads disse...

O evolucionismo fez tudo ficar no mesmo lugar, é verdade. Nada mudou, repetimos o passado, apenas com outra roupagem.

Meg disse...

Caro jrd,

Este é só um dos grandes poemas de Affonso Romano de Sant'Anna, um autor que vale a pema conhecer.

Um abraço

Ana Tapadas disse...

Impressionante como andamos em ciclos, não é?
Excelente post.
Beijo

Zé Povinho disse...

Os vivos reconhecem que sobreviver não é viver. Por aqui há quase sempre algo de novo, pelo menos para mim.
Abraço do Zé

Bípede Implume disse...

Querida Meg
Antes de mais: Bem-vinda.
O novo visual do blog está soberbo.
Este poema retrata bem a monotonia do tempo que passa, e ...contudo, algo sempre vai mudando. Às vezes para pior.
Beijinhos de muita amizade.
Isabel

Jorge Manuel Brasil Mesquita disse...

Contraste entre a vida e a aparência da morte figindo-se viva. Assim vamos vivendo.
Jorge Manuel Brasil Mesquita
Lisboa, 23/09/2010

mundo azul disse...

_______________________________


... é assim! Desde que o mundo é mundo... As tristeza usam um novo manto, as alegrias uma nova máscara, mas na essência, são as mesmas que acompanham o homem desde o princípio.
Enquanto visitantes desse mundo, assistiremos sempre o mesmo espetáculo,adaptado para o seu próprio tempo e encenado por novos
atores...

Gostei demais!

Beijos de luz e o meu carinho...

________________________________

Meg disse...

São,

Mundo cão, minha amiga, este em que tantas barbaridades se fazem impunemente.

Beijinho, São!

Meg disse...

Mar Arável

Bem hajas, amigo!

Beijo

Meg disse...

Danclads,

Bem vindo a este espaço onde será sempre bem recebido, apesar de não deixar pistas...
Quanto ao poema, afinal o tempo não muda nada... nem os homens, meu caro!

Cumps

Meg disse...

Obrigada,Ana!
Infelizmente parece que não passamos da "cepa torta"!
Beijinho para ti

Meg disse...

Zé Povinho.

Sobreviver está a ser tarefa impossível para muitos de nós.
Constata-se a cada dia que passa.
Aqui pouco se faz... tenta-se.

Um abraço

Meg disse...

Isabel,

Dizes bem... muda-se para pior, muitas das vezes.
Obrigada pelo elogio carinhoso.
A proximidade do Outono deu-me para fazer obras...rsrsrs.

Beijinho para ti

Meg disse...

Jorge,

É pena que assim seja, meu caro amigo!

Um abraço

Meg disse...

Zélia,

Que bom, receber a tua visita!
E talvez tenhas razão quando dizes...
...As tristeza usam um novo manto, as alegrias uma nova máscara, mas na essência, são as mesmas que acompanham o homem desde o princípio.

Mas não devia ser assim, Zélia!

Um beijo de luz.

Naty disse...

O amor nasce de um beijo, cresce de um sorriso, alimenta-se de um carinho e ressuscita de um perdão."
Uma boa semana
Bjs com carinho

samuel disse...

Leitura boa!!!...

Abreijo.

José Lopes disse...

Turner é uma escolha com muita classe.
A modernidade e o egoísmo não são a mesma coisa, mas parece que os modernaços elegeram o egoísmo como virtude destes tempos.
Cumps

Meg disse...

Naty e Carlos,

Bem hajam!
Uma boa semana para vós.

Meg disse...

Muito boa, Samuel!
Bom fim de semana!

Abreijos

Meg disse...

Guardião,

Turner é Turner... para quem sabe!

Quanto aos modernaços, são uns "espertalhaços", não duvides.

Um abraço